janeiro 15, 2012

JAMES JOYCE

"As folhas secas cobrem em abundância
o caminho das recordações."

UMA FOTO

UMA TRILHA SONORA


.a trilha sonora da minha vida começou com um compacto da elis regina: madalena, de um lado. vou deita e rolar, do outro. tinha doze anos.  nessa época, surgiram os hormônios e os meninos. doze anos depois, os meninos não eram mais novidade e eu fritava batatinha para o almoço no ap da borges fortes, em porto alegre, quando ouvi pela radio continental  sobre sua morte. tinha dois filhos pequenos pra criar que me olhavam sem entender nada. eu chorava sentada no piso refrescante da cozinha, encostada na parede. eles brincavam na sala e eu não podia dizer que a vida era uma merda. seria injusto. lembrei disso porque estamos em 2012 e a morte de elis completa trinta anos. é muito tempo para quem sempre imaginou que iria embora dessa cidade para ser uma sandra passarinho. antes de casar descobri os mutantes. depois, rita lee que embalaria os anos 80. ontem comprei um cd da amy  winehouse. é patético comprar cd. mas sempre fui patética. amy é a trilha sonora dos meus cinquenta. tambem morreu cedo. hj é dia de chamar os espíritos.

UMA CASA PARA MORAR

QUANDO VIERES



Quando vieres
Encontrarás tudo como quando partiste.
A mãe bordará a um canto da sala…
Apenas os cabelos mais brancos
E o olhar mais cansado.
O pai fumará o seu cigarro depois do jantar
E lerá o jornal.

Quando vieres
Só não encontrarás aquela menina de saias curtas
E cabelos entrançados
Que deixaste um dia.
Mas os meus filhos brincarão nos teus joelhos
Como se te tivessem sempre conhecido.
Quando vieres
Nenhum de nós dirá nada
Mas a mãe largará o bordado
O pai largará o jornal
As crianças os brinquedos
E abriremos para ti os nossos corações.

Pois quando vieres, Não és só tu que vens,
É todo um mundo novo que despontará lá fora
Quando vieres.

Maria Eugénia Cunhal
Poema XVII de “Silêncio de vidro”, Abril de 1962.