setembro 12, 2009

Mulher de sótão


Como diz o tango baila-se no compasso da alma. Baila-se na penumbra.
Fico olhando para o meu sótão. Tríptico: resistências, tantas ironias, perdas.
E agora enquanto escuto Esteban Morgado olho para os meus pulsos. É de giletar.

Morrer pelo belo. Parece estranho, mas como a morte pode se associar tão facilmente a alegria? A música tem disso: fúria e impulso. Um salto e se passa para o lado de lá, no gozo fatal. Porque se dar, se revelar é sofrer também. Muerte, minh'alma hoy es argentina...

Mulher de sótão...
Beber aqui em cima e cheirar todas essas reminiscências é um risco que beira a loucura. Uma over-alegria por todas as possibilidades de estar sozinha. E fantasiar nessa solidão.


Só aqui minha consciência assume todos os absurdos confessionais: entre caixas empoeiradas, livros esquecidos, baús com vestidos e sapatos de outros carnavais. E aquele varal de luvas... A lembrar os fantasmas que não queremos encarar.
Não dá para prever a verdade. Só com o tempo - assopro.
E assim segue a tarde de chuva. No compasso tangueiro esvazio uma garrafa.



Qual das duas? - um dia perguntou quando nos encontramos por aí.
Nenhuma – se sincera, responderia.
Sou uma mulher de sótão.
Eu me guardo.
Ou não.

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