POR QUE SOU VICIADA NO FEISSIBUQUI?
Do fb de Sylvia Moretzsohn, jornalista
"Meu nome é Aton Fon Filho. Em 1974, abril, eu estava
preso na Ilha Grande.
No dia 23, fui levado para o Presídio Hélio Gomes, no Rio de
Janeiro e, no dia 24, para a Polícia do Exército (PE) da Barão de Mesquita.
No dia 25, fui trazido para São Paulo e, já à noite, levado
para o quartel da PE na Abílio Soares, onde fiquei isolado numa cela no
corredor dos presos, que estava vazio.
Ficou claro que o contato comigo era proibido e até para
entrega das refeições vinha até a cela o sargento comandante da guarda
acompanhado de outros praças.
No final da manhã, houve uma discussão sobre a limpeza do
corredor e das celas e um grupo de soldados entrou no corredor. Na passagem, um
deles jogou uma laranja dentro de minha cela, sem que eu pudesse ver quem fora.
Eles saíram e tornaram a entrar no corredor das celas
carregando baldes, vassouras e esfregões. Na passagem — e, de novo, sem que eu
visse quem o fazia — outra laranja foi jogada na cela e um pão em cima da cama.
Terminada a lavagem, eles foram se retirando enquanto um
deles, um cabo, fazia a vistoria do trabalho realizado.
Ao passar em frente da cela em que eu estava, esse cabo, um
jovem, se aproximou e me perguntou se o pão tinha caído no chão. Eu respondi
que não, que tinha caído na cama e agradeci pelas laranjas e pelo pão.
Aí esse rapaz, esse cabo, me perguntou se eu tinha visto o
que tinha acontecido em Portugal. Eu disse que não e ele explicou:
"Esse
povo de vocês, de lá, ontem derrubou o governo, um ditador que tinha lá."
Foi só o que eu soube do 25 de abril, no dia 26 de abril,
graças à solidariedade de um jovem cabo que escamoteou para minha cela e me deu
de presente duas laranjas, um pão e a certeza de que as mais ferozes ditaduras
podem ser derrubadas."
* fotos pesquisadas na internet.
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