Guardachuvadelaura
agosto 09, 2025
HISTÓRIA DA LITERATURA NO RS
Sim, um semestre dureza esse de 2025.
Um semestre de perdas.
A literatura ajudou como uma organização psíquica das
minhas dores e inseguranças. E medo.
Agora, sejamos sinceros, o que se sabe além do Érico
Veríssimo, Mario Quintana, Josué Guimarães, João Gilberto Noll?
Talvez, Dyonelio Machado, Assis Brasil, Lya Luft?
Todos os dias, a História da Literatura no Rio Grande do
Sul me salvou.
Acrescentou.
Apresentou uma legião de escritores que eu nunca tinha
ouvido falar.
E mais, que a tradição à escrita iniciou com Delfina Benigna da Cunha com a edição de "Poesias oferecidas as senhoras rio-grandense."
Organizado pelo escritor e professor da UFRGS, Luís Augusto Fischer, a quem agradeço e a todos que fizeram parte dessa coleção.
No último livro, passei a existir, definitivamente.
Saí da aldeia.
MINHA DIGITAL
Só a arte para lembrar que a gente guarda uma chama interior, que a gente pode compreender os muitos eus que arrastamos por aí. A arte me aproximou das minhas melhores amigas, alguns amigos, mas principalmente de quem caminhou junto nesses últimos 50 anos. As arestas, as felpas, os borrões? Tudo fez parte dessa grande tela, dessas páginas doídas, desse palco imenso que é a vida - privilégio de uns.
WYSLAWA SZYMBORSKA
(Mas poderia ser Gaza...)
“Mulher, qual é o seu nome?”
“Não sei.”
“Quantos anos você tem?”
“Não sei.”
“Por que você cavou esse buraco?”
“Não sei.”
“Há quanto tempo está escondida?”
“Não sei.”
“Por que você mordeu meu dedo?”
“Não sei.”
“Você sabe que não irei machucá-la?”
“Não sei.”
“De que lado você está?”
“Não sei.”
“Estamos em guerra, você tem que escolher.”
“Não sei.”
“Seu vilarejo ainda existe?”
“Não sei.”
“Aqueles são seus filhos?”
DO MEU BLOQUINHO
Na superfíce a gente não tem noção do tamanho do iceberg. Não percebe nem a sombra, só o pico reluzente. Na superfíce tu não tem noção do tamanho do buraco que se abre aos nossos pés. Tu atira uma pedra e não escuta o som dela caindo. Porque depois do buraco tem outro que tu não imaginava que pudesse existir. Lembrei de uma frase do escritor Sérgio Faraco, na Matinal online: “Falando, as imagens são distintas. No pensamento estão amontoadas.” Por isso escrevo, para que as imagens gritem e me libertem. Já houveram outras perdas, mas nenhuma foi tão presente. Foi tão buraco, tão iceberg. Eu nem me reconheço. Minha amiga não me reconhece. Vejo fotos... O passado virou presente. Olho as guitarras, os discos de vinil, os livros e tudo me derrota. E quando tu consegue sorrir de uma bobagem ou outra, a culpa te espreme, mói e tu volta ao estado de superfíce.







