fevereiro 11, 2010

* JUNTANDO AS ESCOVAS...


Fiquei olhando as imagens de um casamento na vitrine do fotógrafo.

Os olhares felizes para o olho da câmera.
A noiva com os braços finos e os dentes brancos.
O noivo, de colarinho apertado, com as primeiras rugas na testa.
Melhor: marcas de expressão.

Corta: adivinhe quem escreveu essa sentença?

“A loucura e a razão estão perfeitamente delimitadas.
Sabe-se onde uma acaba e onde a outra começa.
Para que transpor a cerca?”

Corta e volta para a vitrine: não é insensatez rasgar dinheiro em festas onde a maioria sai dali criticando o vestido da mãe da noiva, a comida e o DJ?

Tem gente que chega a vender o carro para pagar a champagnhe da festa.

Tem noivo que nunca dançou na vida mas se expõe ao melodrama de um tango ensaiado.

Tem noiva racional que não tem amigos para convidar mas conhecidos para compor o álbum de fotografias.

Ah, casamento é do tempo do amor romântico: as pessoas se apaixonavam, casavam e aí conferiam a conta bancária. Discretamente.

Hoje não.
Começa pelo fim e muito abertamente: conta bancária, casamento, talvez a paixão.

Como disse brincando, mas disse, Maitê Proença num programa de tevê: “Eu só me apaixono por caras ricos!”.
Ao que retrucou a jornalista, Mônica Valdvogel: “Casamento é business: amor + dinheiro. Amor romântico só nos livros.
Uma brecha para a filósofa Márcia Tiburi: “Casam na igreja, mas não tem fé. Como aqueles que cursam uma faculdade, mas não tem educação, cultura.”

Opa, passou um filme na minha cabeça...
Mas também pensei nas amigas solteiras, separadas e viúvas: todas procurando um companheiro para dividir não só as contas, mas principalmente a solidão.

Como se não existisse a solidão a dois: dois computadores, dois televisores, dois quartos e cada um vivendo a sua vida, dividindo alguns amigos, se apoiando para esporádicos jantares de casais.
Casamento de vitrine: no apagar das luzes é preciso encarar o escuro do vazio a dois. As pessoas esquecem que conviver implica em intimidade. Coisa que nem sempre resiste a benção do padre.

Casamento como tábua de salvação ficou para trás, comentam elas enquanto jogam canastra nas terças-feiras.
Hoje a mulher se sustenta, paga sua própria cerveja, comanda seu destino e até filho pode ter sem a presença física do homem. Estão aí os bancos de esperma.
Elas se olham, concordam mas dizem que para facilitar o jogo um curinga sempre vem bem.

Odete está de casamento marcado com o Elísio.
Todas nós sabemos que Odete jamais olharia para um cara como o Elísio, feio, gordo e sem humor, se ele não tivesse o carrão e os cartões de crédito que tem.
Pior foi a Adelinha: casou, embarrigou e depois deu um pontapé no Wilmar, que paga uma bela pensão até hoje e ainda foi obrigado a deixar a linda casa para a ex que agora curte um garotão. Babaca, claro.

Sabe quem escreveu a frase lá em cima?
Machado de Assis.
Bárbaro, não é?
E ainda existem aqueles que insistem em transpor a cerca ao som de Ave Maria de Gounod.
* Minha crônica semanal publicadas nos jornais Opinião, de Encantado e A Hora, de Lajeado.

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