janeiro 08, 2020

WISŁAWA SZYMBORSKA




AMOR A PRIMEIRA VISTA

Ambos estão convencidos de
que um sentimento repentino os uniu.

Essa certeza é linda,
mas a incerteza é mais bonita.


Não se conhecendo, eles acreditam
que nada aconteceu entre eles.

Mas o que as ruas, as escadas, 
os corredores onde eles poderiam se cruzar 
por um longo tempo?


Eu gostaria de perguntar
se eles não se lembram -
uma vez cara a cara
em alguma porta giratória?
uma "desculpa" na multidão?
um "número errado" no telefone?
- mas eu sei a resposta.

Não, eles não se lembram.

Seria muito surpreendente saber
que o acaso estava brincando 
com eles há muito tempo.


Ainda não totalmente preparado
para mudar o destino deles,
ele se aproximou deles, afastou-os, 
abriu caminho
e reprimiu uma risada
com um salto que evitou.


Havia sinais, sinais,
que importam se indecifráveis.

Talvez três anos atrás ou 
na última terça-feira um folheto voasse
de um ombro para outro?

Algo foi perdido e algo coletado.

Quem sabe, talvez já a bola
nos arbustos da infância?

Havia alças e sinos nos quais
um toque repousava prematuramente.

Malas estacionadas na sala de bagagem.

Uma noite, talvez, o mesmo sonho,
imediatamente confuso ao acordar.


De fato, cada começo
é apenas uma sequência
e o livro de eventos
está sempre aberto 
no meio do caminho.


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