novembro 21, 2019

LEANDRO DEMORI






No início de novembro eu saí do Brasil para uma série de eventos nos Estados Unidos, na Noruega, Suíça e França. 

Conversei com brasileiros expatriados mas também com pessoas de vários países sobre os horrores da política bolsonarista. 

Não que esses horrores fossem novidades para alguém: a destruição em marcha da Amazônia, a corrupção no judiciário para proteger a própria família, o enfraquecimento da nossa democracia. 

Em poucos países do mundo democrático o presidente tem seu nome envolvido em um caso de assassinato.

Ouvi também relatos de colegas jornalistas de todo o mundo, de Oslo a Lagos. 


Pedro Molina, o maior cartunista da Nicarágua – que hoje vive nos Estados Unidos por causa dos horrores de seu próprio país – balançava a cabeça e sorria tristemente enquanto assistia à minha apresentação na Universidade do Texas, em Austin. 

Quando eu disse que Bolsonaro havia ameaçado Glenn de expulsão; 
quando eu disse que parlamentares pediam o fechamento do Intercept; 
quando eu disse que a própria ONU pediu providências do governo brasileiro contra as ameaças a nossos jornalistas (e foi ignorada), 
notei que era um roteiro que ela já conhecia. 

Molina me disse depois, em uma mesa com jornalistas de outros países: 

“Somos todos pacientes com a mesma doença em graus diferentes de contágio”. Mais de 440 pessoas foram mortas nas ruas do seu país até julho do ano passado, a maioria, manifestantes que foram assassinados a tiros.

Em todos os eventos que participei, pude perceber que as pessoas sabem de uma coisa: 
seja em Genebra, seja em Kampala, sem a imprensa, a vida de todos fica muito pior. 


Países que respeitam direitos, que prezam pela liberdade de expressão e que apostam na diversidade – e não no ódio e na censura – têm mais imprensa, e não menos. 

Onde a imprensa está enfraquecida, o horror tomou conta.



Saí dos EUA com a sensação de que as pessoas sabem quem é Jair Bolsonaro, têm dimensão do seu autoritarismo e do perigo que representa. 

O que mais repercutiu por lá foram as queimadas na Amazônia e a crise generalizada no ministério do Meio Ambiente. 

Pude contar um pouco da nossa cobertura, como demos com exclusividade o falso currículo de Ricardo “Yale” Salles, e desmascarar sua agenda com os destruidores do planeta. 

Falei também sobre o plano alucinado dos militares para “ocupar” a Amazônia.


Nosso trabalho no Intercept passa por apurar informações, dar furos, investigar. Mas ele também tem uma inegável dimensão política e eu não tenho vergonha de assumir isso. 

Política com P maiúsculo. Porque está cada vez mais claro que se a gente tiver vergonha de apontar o dedo, de denunciar para o mundo o que está rolando por aqui e de dar nome às coisas, vamos ser esmagados pelas forças autoritárias. 

Voltei cheio de ideias e com fome para investigar aqueles que querem nos calar, tirar mais direitos, deixar a vida ainda mais precária. O remédio contra isso? 

Mais jornalismo! Mais imprensa! 

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