LEANDRO DEMORI
No início de novembro eu saí do Brasil para uma série de
eventos nos Estados Unidos, na Noruega, Suíça e França.
Conversei com
brasileiros expatriados mas também com pessoas de vários países sobre os
horrores da política bolsonarista.
Não que esses horrores fossem novidades para
alguém: a destruição em marcha da Amazônia, a corrupção no judiciário para
proteger a própria família, o enfraquecimento da nossa democracia.
Em poucos
países do mundo democrático o presidente tem seu nome envolvido em um caso
de assassinato.
Ouvi também relatos de colegas jornalistas de todo o mundo,
de Oslo a Lagos.
Pedro Molina, o maior cartunista da Nicarágua – que hoje vive
nos Estados Unidos por causa dos horrores de seu próprio país – balançava a
cabeça e sorria tristemente enquanto assistia à minha apresentação na
Universidade do Texas, em Austin.
Quando eu disse que Bolsonaro havia ameaçado
Glenn de expulsão;
quando eu disse que parlamentares pediam o fechamento do
Intercept;
quando eu disse que a própria ONU pediu providências do governo
brasileiro contra as ameaças a nossos jornalistas (e foi ignorada),
notei que
era um roteiro que ela já conhecia.
Molina me disse depois, em uma mesa com
jornalistas de outros países:
“Somos todos pacientes com a mesma doença em
graus diferentes de contágio”. Mais de 440 pessoas foram mortas nas ruas do seu
país até julho do ano passado, a maioria, manifestantes que foram assassinados
a tiros.
Em todos os eventos que participei, pude perceber que as
pessoas sabem de uma coisa:
seja em Genebra, seja em Kampala, sem a imprensa, a
vida de todos fica muito pior.
Países que respeitam direitos, que prezam pela liberdade de
expressão e que apostam na diversidade – e não no ódio e na censura –
têm mais imprensa, e não menos.
Onde a imprensa está enfraquecida, o
horror tomou conta.
Saí dos EUA com a sensação de que as pessoas sabem quem é
Jair Bolsonaro, têm dimensão do seu autoritarismo e do perigo que representa.
O
que mais repercutiu por lá foram as queimadas na Amazônia e a crise
generalizada no ministério do Meio Ambiente.
Pude contar um pouco da nossa
cobertura, como demos com exclusividade o falso currículo de Ricardo “Yale”
Salles, e desmascarar sua agenda com os destruidores do planeta.
Falei também
sobre o plano alucinado dos militares para “ocupar” a Amazônia.
Nosso
trabalho no Intercept passa por apurar informações, dar furos, investigar. Mas
ele também tem uma inegável dimensão política e eu não tenho vergonha de
assumir isso.
Política com P maiúsculo. Porque está cada vez mais claro que se
a gente tiver vergonha de apontar o dedo, de denunciar para o mundo o que está
rolando por aqui e de dar nome às coisas, vamos ser esmagados pelas forças
autoritárias.
Voltei
cheio de ideias e com fome para investigar aqueles que querem nos calar, tirar
mais direitos, deixar a vida ainda mais precária. O remédio contra isso?
Mais
jornalismo! Mais imprensa!
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