dezembro 24, 2016

INVESTIGAÇÕES CASEIRAS



Há dias ele (ou ela?)  perguntou como continuei casada tanto tempo. Rimos. Eu disse q também não sabia. Mas investigaria esse trilho.

Crescer numa cidade pequena, com todas as delícias e tragédias a par de todo mundo, é terrível. Claustrofóbico, diria. 

Adolescente nos anos 70, a revista Nova foi minha instrutora sexual.  Ajudou na época para desfazer preconceitos. Mas só o Tempo e a compreensão do próprio íntimo conjugou a certeza: uma relação longeva – sim, o termo usado para casamento jurássico como o meu –  é sustentada por um sentimento q a revista não contava.   

Talvez aqueles anos, assoprar as cinzas dos sutiãs queimados nos anos 60 fosse mais importante - a liberação  feminina precisava se sustentar. Agora, o ‘empoderamento’ é a  palavra de ordem  e somada à histeria do whatsApp e redes sociais, parece mais difícil manter relações duradouras.


E ainda tem os filhos, a família de cada um dos pares, com seus  próprios problemas, mais as tensões do trabalho, a pressão social consumista, enfim, muito contribuindo para a separação dos casais.

O saco cheio transborda rapidinho. Tolerância zero... O saco não tem mais paciência: as tais relações líquidas do  filósofo Zygmunt Bauman sobre a superficialidade das relações. 

Tu é tão instável, tão geniosa, como vocês continuam juntos até hoje? – ele (ou ela?) ainda quer saber. 
 Já disse, vou pesquisar, é difícil apontar caminhos...  – respondi, gargalhando.
 




A revista Nova só falava em sexo – propulsão das relações. E continua falando como se terapeuta sexual de renome...  Ouso dizer que não é beeeem  por aí. Tem muita ponte pênsil querendo serr ponte firme.

A gente casa – ou vive – com uma pessoa q a gente gosta.  E porquê ela nos atraiu?  (Atenção: atraiu e não traiu.)
Sê pela grana, nem continue a ler...

Um atraiu o outro pelo espírito.  Por empatia erotizante, porque não? - entendam como quiserem.  Mas,  também por alguns valores recebidos em casa e percebido no outro (ou outra).   

A pessoa escolhida para viver e ser pai (ou mãe) de seus filhos tem um estofo bom e não compactua com a maldade humana. Hoje você não sabe como é importante. Um dia, talvez, descubra...

Isso não segura casamento – disse meu interlocutor.



Descubra outras coisas para admirar no seu parceiro. E valorize. Valorize mesmo. Não mantenha uma relação de superfície. Ninguém vive no ar... Todo mundo traz um subterrâneo dentro de si. Converse sobre. Essa é a conexão mais verdadeira e companheira: olho no olho e ouvir. E deixe de ser matraca, orra. 

Se dê conta: seu parceiro (a) de cama e mesa  é o seu melhor amigo (a) –  tenha  certeza disso.  A amizade é uma moeda rara hoje em dia. Esse amigo (a)  se preocupa com tua insônia, teus fantasmas e neuras. E se alegra com tuas conquistas.  Ah, mas os defeitos...  

Acorda, Cinderela! Acorda, Zé do Mato! 
Quem não tem defeitos q bote fogo no telhado.
 

Ta de saco cheio?  Assuma o papel do outro pra ver se é fácil.
Por amord'us, crie pontes, não barreiras.

Certa vez,  li: “Case com quem você goste de conversar.”  Também é verdade.

Certa vez, ouvi: “Separa, arranja outro, tudo a mesma bosta, só mudam as moscas.”
Hoje sei que é mais fácil entender as moscas.

Com quase  40 anos de casada sei da importância entre conciliar Minha vida com Nossa vida. Sei da importância de conversar, de se abrir, dividir as preocupações (e as fofocas sociais) como se faz com um amigo (a). Gentileza gera gentileza é um fato. Pratique.

Mas, por favor, saibam ouvir e respeitar a opinião um do outro. É tão básico isso, ninguém precisa pensar igual porque dorme embaixo do mesmo edredom. E procurem rir juntos - e sozinhos. Das próprias burradas também.  Não poupem risada só para não dar o braço a torcer. E não esqueçam de se abraçar em algum momento do dia, durante 30 segundos. Juro.
 





- E o sexo?
Suspirei fundo.
- Não te contaram?
- Não.
- Relação duradoura é amizade com alguma possibilidade de sexo, às vezes. A revista Nova  com todas suas posições sexuais, com o tal do clímax, com as “5 posições para fazer enquanto a comida está no forno”, sinto muito, não sabe nada de casamento longevo.

O importante não é a posição, mas a comida no forno!  

Essas foram as minhas investigações. Se nada adiantou, siga sua intuição, procure pela sua praia. Cada um precisa descobrir o próprio caminho de uma relação que segue em frente. Ninguém disse que seria um caminho fácil, mas chegar juntos na mesma onda tem o seu encanto...

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