MANHÃ DOMINICAL
Sete horas da manhã de domingo. Lua e o sol disputam o mesmo
céu. Garotos bêbados e garotas equilibristas, em suas plataformas pisantes,
alimentam as entranhas nas lanchonetes envenenadas das esquinas de Lajeado. Nada
que eu não fizesse no passado. Uma brisa fresca refresca meus pensamentos. As ruas quase vazias de gente e de árvores e blablabá...
Um rapaz sobe correndo a ladeira do
supermercado e grita: “Olha a confiança,
tia”. Meus olhos desconfiados nos seus
olhos azuis fissurados. “Sou da rua, tia,
mas sou de confiança, o cara ali embaixo ficou sem gasolina na caminhonete. Eu
podia sumir com esses vinte pila. Mas
sou de confiança, vou buscar um litrão de gasolina pra ele.” Continuamos
caminhando, lado a lado. “Claro que tu é
de confiança. Por que não seria? Quem não é de confiança é o governo. Os
ladrões são os políticos. Tu é um cara de confiança.” As mãos sacudiam as duas
notas de dez no ar. O ‘craving’ da
recompensa, evidente. Os olhos azuis
aprovaram o comentário amargo: “Tudo ladrão, tudo ladrão.” Caminhamos juntos uma
quadra, ele muito falante, desejou um bom
domingo. Retribuí. No posto chegou gritando para os frentistas, com o dinheiro
na mão: “Olha aqui a confiança!” Antes de chegar em casa, percebi, a lua e
sol continuavam firmes na competição por esse final de primavera.
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