dezembro 18, 2016

MANHÃ DOMINICAL



Sete horas da manhã de domingo. Lua e o sol disputam o mesmo céu. Garotos  bêbados e  garotas equilibristas, em suas plataformas pisantes, alimentam as entranhas nas lanchonetes envenenadas das esquinas de Lajeado. Nada que eu não fizesse no passado. Uma brisa fresca refresca  meus pensamentos. As ruas  quase vazias de gente e de árvores e blablabá...  Um rapaz sobe correndo a ladeira do supermercado  e grita: “Olha a confiança, tia”.  Meus olhos desconfiados nos seus olhos azuis fissurados.  “Sou da rua, tia, mas sou de confiança, o cara ali embaixo ficou sem gasolina na caminhonete. Eu podia sumir com esses  vinte pila. Mas sou de confiança, vou buscar um litrão de gasolina pra ele.” Continuamos caminhando, lado a lado.  “Claro que tu é de confiança. Por que não seria? Quem não é de confiança é o governo. Os ladrões são os políticos. Tu é um cara de confiança.” As mãos sacudiam as duas notas de dez no ar.  O ‘craving’ da recompensa,  evidente. Os olhos azuis aprovaram o comentário amargo: “Tudo ladrão, tudo ladrão.” Caminhamos juntos uma quadra, ele muito  falante, desejou um bom domingo. Retribuí. No posto chegou gritando para os frentistas, com o dinheiro na mão: “Olha aqui a confiança!” Antes de chegar em casa, percebi, a lua e sol continuavam firmes na competição por esse final de primavera.

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