dezembro 22, 2016

AMIGOS DO FEISSIBUKI...



Bem meu amigo Flavio veio ao mundo para Getulio sair dele. O primeiro, Leão, o segundo Aries. Eu sequer, embrião. Meus pais casaram naquele ano. Foi preciso uma autorização divina. Mas veio de Roma mesmo, mais pertinho. Conheço bem esse meu amigo do feissibuqui: um coração enorme. Divergimos, mas as risadas compensam qualquer estranhamento. No ano que meu amigo nasceu a terra tremeu. Exatamente no Porto dos Gaúchos, em Mato Grosso.  Não tremeu mais do que a Saudosa Maloca, sucesso do ano pelo assobio de meu pai.



 Se fosse menos virtual, diria Pô, Nelsinho, tu escreve bem pra caralho. Mas o tempo passou e a gente não mais se reconhece e eu não tenho mais idade para tietagem explícita. Ha cinco anos eu vivia, quando esse cara nasceu. É impressionante como tenho amigos de Aquário. Por que será? Ele tem o que não tenho: persistência. No ano de nascimento de Nelson fui morar numa esquina da Tiradentes com a  Bento, em Lajeado. Num chalé com um lindo quintal verde e alguns mistérios. Na esquina em frente, os Schilling, com seu filho com quem eu disputava a raiva. Talvez ele se chamasse Nelsinho, talvez Carlinhos...



Quase caí dura, a Carla nasceu no ano que não terminou, no ano bissexto, no ano das barricadas em Paris, no ano que iniciou a Guerra do Vietnã, no ano que assassinaram  Martim Luther, no ano da Tropicália, no ano que Martha Vasconcellos virou Miss Universo e no ano que Raul Seixas lançou o primeiro disco. Tudo isso explica o seu olhar diferenciado. Naquele ano minha mãe dava um duro danado para cuidar dos meus irmãos gêmeos. No fogão, como vapores de um caldeirão de bruxa, ferviam as fraldas de pano para não provocar assaduras nos dois. Naquele ano levei a maior surra do meu pai: cheguei depois das seis horas da tarde em casa...  Pensei que ninguém notaria um atraso inocente já que a correria era grande. Pensei errado.




Quando Adão nasceu sete anos depois e aquariano como eu, entrei na primeira série no grupo escolar, de guarda-pó branco e laço de fita azul no pescoço numa daquelas escolas que o Brizola inaugurou durante o seu governo. Da janela do banheiro, presenciei minha primeira dor. Uma menininha chamada Cândida morreu atropelada. Meu amigo Adão, que não conheço em carne e osso, mas em traço e tiras, nasceu no dia em que Nat King Cole ascendeu aos céus eternizando para sempre “Unforgettable”.




 Xandi e Eminem, aquele “você pode fazer qualquer coisa se você definir a sua mente para o homem” nasceram no mesmo ano. No fatídico ano do meu baile de debutantes, embaixo da maior chuva feito um batismo, uma passagem marcante, de criança para adolescente. Ano fudido aquele... Todas queriam ser Liza Minelli. Ou pelo menos algumas de nós.  Mas, alguém voltou dos Estados Unidos naquele ano e confidenciou sobre “O ultimo tango em Paris”, causando o maior frisson na turma virgem. Naquele ano tão sinistro, meus avós viajaram de Cruz Alta à Caxias, para a Festa da Uva e foram visto - ou se viram? - à cores na tevê brasileira. No ano Sesquicentenário da Independência se torturava muito atrás dos muros e da telinha plim-plim. Xandi nasceu e na sua trajetória brotou uma ferida.



Nasceu Aline quase de mão com o mano. Nasceu em plena ditadura. Um ano falido. Sabe lá o que determina a sina da gente. Minha amiga virginiana nasceu quando encarei o vestibular em Porto Alegre. Quando ela descobriu o mundo aos três meses, o exército brasileiro terminou com o mundo de três comunistas, numa emboscada na Lapa paulista. E ficou por isso mesmo. Traição por traição, a covardia se entrega onde a confiança morre. Mas a minha amiga do feissibuqui se inventou na poesia e no olhar íntimo de suas desconfianças. Como Guimarães Rosa escreve  interrogando a vida com um fluxo de consciência perturbador.
 


Quando Elis canta  “O bêbado com chapéu-coco fazia irreverências mil pra noite do Brasil. Meu Brasil! Que sonha com a volta do irmão do Henfil. Com tanta gente que partiu num rabo de foguete...”  eu choro. Juro. Até hoje. A musica acabou em hino da anistia, essa que nunca me dei. Naquele ano eu era filha da Puc e ainda vi estudantes em frente à Engenharia da Ufrgs lançar bolitas no asfalto, espantando a cavalaria. Vi correria, ouvi gritos, sem saber das torturas e sevícias policiais nos subterrâneos de Porto Alegre. Fiquei mãe no ano em que meu amigo do feissi, Vinicius, também nasceu, separados por apenas uma semana de vida. Cresceram os dois meninos  dividindo bola na rua e na pracinha.
Nelo nasceu cinco dias depois do meu filho. Eu poderia ser mãe dele também. Os dois Peixes sonhadores e criativos. Um conheço, outro não. Naquele ano ainda me sentia a Menina Veneno que tocava adoidado nas fms do país. Quando será que me transformei em Miss Lexotan?  No ano que meu amigo nasceu foi preciso dar um tempo na faculdade e não pela grande seca no Nordeste, mas pela  maxidesvalorização do cruzeiro mesmo. Sepultura e Raça Negra se lançaram naquele mesmo ano.  Algo me diz que os gostos musicais de Nelo e meu filho começaram por aí, cada um de um lado do vinil.



No ano que surgiu a Wikipédia, Dani nasceu e eu também me vi avó. Logo depois do primeiro ano desse novo século.  Ela e minha neta, a mesma idade. Só que uma nasceu no mesmo dia da boneca Bratz, com aqueles olhos imensos, anos luz da Barbie que nunca ganhei.  Fiquei vó quando a maioria de meus amigos se viram pais. Adolescente trabalhei, logo cedi. Ainda é cedo, amor. Mal começaste a conhecer a vida. Já anuncias a hora de partida. Sem saber mesmo o rumo que irás tomar... Ah, Cartola  emociona. Agora acompanho as águas mudarem novamente e um filme se projeta na areia da praia, no impulso das ondas.  E me dá uma tristeza. Tudo continua muito cedo.



Pensava nisso, nessa maioria de amigos e  desconhecidos, com seus sonhos e pesadelos.Com suas conquistas e derrotas. Às vezes no paraíso, outras, no inferno. Uma curtida nos separa. Um compartilhamento, comungamos. Um comentário honesto e somos deletados...

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