MEIO CALENDÁRIO...
Sopro balões. Cada balão cinco sopros.
Depois de 15 balões cheios – 75 sopros – fico tonta.
Sopro tanto que escapa todo o vento da minha cabeça e deixo de ser cabeça-de-vento, como dizia minha vó que o Senhor a aguarde e a tenha fora desse mundo-purgatório.
Meu pai foi quem ensinou a dar nó em balão. Reconheço que não é para todos. Precisa quase de um cursinho no Senac.
Saio pela casa atrás de cordão para amarrar os fofos e encontro um novelo cheio de nó. Tema de casa: não perca tempo desatando os nós da sua vida.
Corte. Recomece na outra ponta. Ou melhor: enterre o nó e faça um pedido.
Não tente compreender porque os nós aconteceram. Simplesmente pense que sem nós a vida seria muito sem graça... Seria uma vida horizontal. Um tédio.
Faço uma pausa na missão de encher balões e me detenho na pitangueira: um casal vaidoso de Saíra sete cores, uma mãe Sabiá com seu filhote, um tímido Sanhaço azulzinho, um Tico-tico metido a besta, duas Pombinhas rolas, um Bem-te-vi arisco. De noite, um gaviãozinho esperto sobrevoa a área. No telhado, dois gatos dissimulados rondam a copa da árvore e jogo um jabuticaba graúda espantando o bichano. Mas ele não se comove na minha defesa da passarinhada.
Se juntas duas árvores atraem tantas espécies de passarinhos, o que não atrairá um quintal de verdade? Um parque? Uma reserva?
Sem falar nas borboletas e nos beija-flores.
Esses devaneios foram registrados no início do ano.
Agora chegamos em Junho e espio o calendário:
um ano escancaradamente pela metade.
Até dia de 10 do próximo mês vamos respirar verde-amarelo. Ou não.
Taquicardia à parte, penso em reunir meu povo e preparar um bacião de pipocas com melado. Quer coisa melhor do que torcer em família? E a bandeira? Dipindurou?
A gente sabia que em 2010 viveríamos a neura euforia da Copa que logo adiante emendaria na angústia das eleições e toda aquela depravação política em horário nobre. Daí mais um pouco, ó... É Natal. Férias. Carnaval. Volta às aulas. Coe.... Páááááára!
Quem foi que ligou os meses na tomada?
* Minha crônica semanal nos jornais A Hora, Opinião e site Região dos Vales.
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