FUN FUN EM MONTEVIDEO
Numa noite de primavera, em 1992, o ator italiano Gian Maria Volonté sentou num canto do Fun Fun, se jogou numa cadeira para trás e deixando seu olhar vagar acima da fumaça dos cigarros, por entre as fotografias em preto e branco na parede do bar, disse:
"Este é um lugar onde vale a pena morrer de madrugada."
Era um pensamento gentil e de poética trágica expressada por um homem cansado.
Volonté poderia ter dito em qualquer lugar do mundo, mas disse no Fun Fun, este bar à média luz montevideano, uma mistura de pub de Glasgow com um museu da vida, que desde o dia 12 de dezembro de 1895 permanece fiel as mudanças do destino, ou seja, do Mercado Central para a rua Cidadela.
Seu fundador, Augusto Lopez, foi um apaixonado por tangos e criador de bebidas famosas, como a Uvita ou a secretíssima Pegulo, hoje não mais servida, e Miguelito, “um trago corto, dulce y com soda” considerado “muy apropiado para ñinos acompañados de sus padres”.
No Fun Fun, em 1933, Carlos Gardel cantou à capela e encantado deixou no bar seu sorriso e louvor as bebidas indeléveis de Augusto Lopez.
E qualquer um pode ainda vê-lo na parede do bar, em preto e branco.
Entre os visitantes lendários e freqüentes do Fun Fun já cantaram Pedro Figari, Julio Herrera y Reissig, Florencio Sanchez, Ringo Bonavena, Fito Paez e Joaquin Sabina.
* Minha livre tradução de um excerto do livro “Boliches Montevideanos – Bares y Cafés en la memória de la ciudad” – de Mario Delgado Aparaín, Leo Barizzoni e Carlos Contrera.
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