DO MEU BLOQUINHO
Meus pais gostavam de bailes. E um deles era o de
debutantes, em Outubro.
Era um baile bonito, com decoração no palco, com um conjunto
bacana e meninas de pais conhecidos que realmente tinham aquele como seu
primeiro baile.
Mas meus pais iam mesmo porque gostavam de dançar. E dançavam muito bem.
Naquele ano, minha mãe fez um vestido novo e foi ao salão fazer maquiagem e cabelos. E o pai vestiu seu lindo summer, dos bailes de gala tradicionais e chiquérrimos de Cruz Alta. Com um grupo de amigos compraram mesa.
Na portaria, no hall do salão do CTC, ainda à Rua João Batista de Mello, o pai apresentou a sua carteira de sócio-remido.
Foi barrado.
O porteiro e a secretária do Clube não sabiam o que era um summer:
"Desculpe senhor, só pode entrar de smoking."
Não tinham obrigação de saber que summer era um smoking de verão.
O pai tentou argumentar. Depois pediu para chamar o presidente do Clube, Juarez Enger.
Não o fizeram. Tinham ordens expressas de
não o chamarem para resolver situação alguma.
A diretoria não queria nem saber quem seriam os sócios
barrados, enquanto que no salão circulavam os smokings fantasiados e cafonas de
muitos, que nem vou citar...
Meus pais voltaram para casa, humilhados. Minha mãe, chocada.
O pai entrou na justiça por danos morais. Venceu.
Ele só foi botar os pés no CTC no debu da neta em 1996,
alguns anos depois.
Desde lá perdi a graça com o clube. Completamente.
Quando assisti o filme Normadland, um insight: “O que é lembrado vive.”
E sigo percebendo como muito continua igual. Um exemplo: não
vejo sócios negros no clube. E acho que de summer também ninguém entra nos
tristes bailes de debutantes movido a dj.
Por que lembrei dessa história?
Porque nesse finde fui comer um churrasco lá embaixo das arvores e só vi alegres bolsonaristas.
Relações estilhaçadas... Deu uma sensação tão ruim que voltei para casa.
0 Comentários:
Postar um comentário
Assinar Postar comentários [Atom]
<< Página inicial