DO MEU BLOQUINHO
.durante a barbárie da caótica primeira guerra mundial, o
poeta e dramaturgo americano edward estlin cummings abdicou das maiusculas em
sua assinatura. suprimiu a importancia dada ao seu nome. para posterioridade,
apenas, e.e.cummings. seu estilo
literario aborta também a pontuação. os estudiosos de literatura chamam de tipografia não linear. foi por citação de um historiador que cheguei ao
poeta. imagino que cummings se percebeu muito desimportante e minúsculo nos
dias de lama e sangue da primeira grande guerra. a
aniquilação do ser humano foi impactante para seus sentidos. daí a opção. com maiusculas, uma arrogancia. há tempos que me acho minuscula. que perdi a esperança na humanidade.
instintivamente passei assinar com minusculas também. e isso que minhas guerras
são batalhas medíocres. cummings é contemporaneo do surrealismo, precursor do
concretismo?
o
céu
era
açuc ar lu
minoso
comestível
vivos
cravos tímidos
limões
verdes frios s choc
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mo
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ndo
vi
o
letas.
.não é o tipo de versos que gosto. prefiro a simplicidade poética de manoel de
barros. porque das coisas simples a conciliação de minha própria
sensibilidade. enveredei para as minusculas da vida e só agora descobri as
razões de e.e.cummings. nada de novo por aí. no caso do poeta americano, o sentimento de impotencia perante
os anos de guerra do keiser. eu, por um sentimento de mindinho mesmo perante fatos da vida. e ontem soube
que a ganancia humana desceu alguns degraus na construção do caráter. um
projeto de cultura apontou nove mil para um jornalista, nove mil para uma
psicóloga, catorze mil para o produtor cultural. era preciso apenas abrir uma
conta no banco. no dia seguinte o dinheiro do projeto já estaria depositado. essas coisas assombram alguns. deu água. esperaram muito para exonerar secretarios cafajestes. e assim governos perdem a
credibilidade por pouca coisa. pessoas que um dia estimamos, também. a minha
sensação é de que realmente a vida é uma
tragédia, onde a penúltima palavra atende pelo nome, desespero. e a última,
morte.
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