fevereiro 15, 2012

IGNORÂNCIA ETERNA

obra de Margret  Spohr

De que mesmo serviu tanto tempo correndo atrás de grana, tanto tempo desperdiçado em mesquinharias e tantos outros minúsculos?
Quem realmente voltou do Outro lado para assegurar “leve toda sua poupança, seus cartões de crédito, seus dólares e jóias, por que o paraíso é um vidão para quem tem crédito.”- quem?
D’us, a gente passa a vida inteira desenrolando escolhas: fazer vestibular ou trabalhar, comer ovo frito ou  brócolis refogado, viajar para China ou reformar a casa, Grêmio ou Inter, casar ou viver sozinho, votar em branco ou anular. Então, é só disso que vão se lembrar quando morrermos: das nossas opções?
Ele gostava de jogar futebol com os amigos.
Ela gostava de pedalar todo fim de tarde.
Eles tiveram filhos e um dia se separaram.
Ele casou de novo. Ela fugiu...

INFLUÊNCIAS
Quando criança pensava que para cada tipo de vida, um tipo de morte.
Por isso mafioso italiano caía cravejado de bala e soldado da cavalaria americana morria trespassado por baioneta. Muito cinema. Muito.
Ele gostava de faroeste mexicano, ela de romances açucarados.
Ele era um Vadinho, ela uma Tieta, e esse ano comemoramos os 100 anos de Jorge Amado.
Ele optou por ser um homem honesto, ela por ter uma vida bela.
Ele roubou até o fim da vida e transformou a cidade num jazigo in memoriam e hoje tudo leva seu nome. Como a família Sarney na capital São Luis, no Maranhão: ruas, escolas, prédios governamentais, hospital, quase tudinho leva uma sarna de apêndice.  E aí já não é ficção, é amarga realidade: o Maranhão de Sarney é o segundo estado mais pobre do Brasil. Espero que quando ele morra não continue por aqui  assombrando os brasileiros feito um encosto azedo.

LEMBRANÇAS FUNESTAS
E já que o assunto é sobre morte morrida, recordo o velório de meu avô, no interior de Vera Cruz. Uma beleza! Casa cheia, um cheiro de estrume de roça entrando pelas janelas empoeiradas, muita roupa preta com cheiro de guardado cobrindo uma gente com suor de fevereiro, mesa grande e farta para data tão especial que até marreco recheado foi servido, mosca pingando em cima das cucas recheadas e lingüiças defumadas, pessoas antigas falando alto, parentes que há muito tempo não se viam, muita novidade para contar, muito óóós e o meu avô ali sozinho, perdendo aquele encontro em pleno carnaval.  Disso lembro e guardo saudades boas de um tempo que se perdeu.
Tenho impressão que do jeito que esse mundéu gira daqui um tempo as pessoas nem vão mais saber dos seus sentimentos. Saudades? Do que se trata mesmo?
Aí não tem como explicar. Tudo muito urgente, muito efêmero, muita liquidação e cada um de olho no próprio celular.
As coisas mudaram tanto que nem a chama da vela do velório é de verdade e se você não puder comparecer a despedida, acompanhe a tristeza pelo computador, em sua casa, do outro lado do país, do planeta.
Mas tem coisas que não mudam: as pessoas continuam falando alto na maior falta de educação para com os familiares e ignorando a presença do personagem principal.
Tenham dó.

* Minha crônica no jornal Opinião, de Encantado.

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