novembro 09, 2010

CONTRASTES

O Vizinho abre a janela da sacada. E acende um cigarro. E vê.

Três fdp armados renderem um rapaz que guarda o carro na garage. E vê render o guarda-noturno que leva uma coronhada. Sangue. O rapaz entra em casa e vê sua família também na mira das pistolas. O menino de seis anos não entende o que acontece. Gritos. Empurram fortemente o dono da casa para o chão, que se machuca. Grito. O menino se assusta e entra em estado de choque. O pai o tranqüiliza, abraçando-o. Gritos e ameaças. O dinheiro, as jóias. Sangue no tapete, na cadeira. Um dinheiro é entregue. Mais, mais, e as jóias? O guarda é preso no banheiro, sozinho. A família é presa no outro banheiro. O pai continua acalmando o filho. Pai, tu é forte? O pai é forte. Essa certeza é fundamental para acalmar o menino. A mãe não quer ver nada do que acontece. Só quer que o pesadelo acabe e se refugia no próprio braço. A impotência de todos. Um fdp quer ver o rosto da mãe: ta se escondendo? Olha aqui. Depois o fdp grita que aquele é o trabalho deles. Roubar. E se preciso, matar.

O Vizinho apaga o cigarro e liga para a Brigada Militar.

A BM está saindo para atender um assalto já consumado em outro bairro.

A polícia muda a rota e chega na casa da família do menino de seis anos.

Vê a porta da garage aberta e entra e prende um dos fdp. Sujou! - um dos fdp grita.

Um se joga pela janela do banheiro onde está a família, com o revólver em punho, ameaçador. Apesar da altura, o fdp cai em pé e não se quebra. Outro pula a janela do quarto e também não se machuca e pula a grade para cair no pátio de um Vizinho. Um Vizinho ex-policial. É preso.

Os fdp são algemados e deitados no chão da garage. Um terceiro consegue fugir com o dinheiro.

Um vizinho filma a ação do escuro de seu ap. Talvez para registrar o tratamento dispensado aos fdp bandidos e assassinos. Não existe uma coisa chamada Direitos Humanos para proteger os bandidos? Existe. As vítimas que se fodam.

Na delegacia, telefonema para o juiz de plantão. Para o advogado dos fdp. Para os familiares dos fdp. Se não é feito isso, de nada serve o flagrante. Os fdp serão soltos imediatamente. Todo um sistema judiciário, penal, protege os fdp deste país.

Às vítimas fragilizadas e impotentes, nada. Quem mandou trabalhar, dar emprego, pagar imposto? O vigia da rua aparece com quatro pontos na cabeça. A filha do vigia também está na delegacia. E pede ao pai que abandone o emprego. Depois alguém diria que a função do vigia é essa. Essa qual? - me pergunto.

Na saída, mais de dez familiares dos fdp tomam a entrada da delegacia, amedrontando as famílias assaltadas naquela noite de domingo.

Investigar para que? Tão corriqueiro esses assaltos. São sempre os mesmos.

Depois as vítimas encontram os fdp na rua. E são achincalhados.

Bandido bom é bandido morto. E os direitos humanos que se fodam.

Só aparecem para defender a corja de estupradores, assassinos e traficantes.

Moral da história: há Vizinhos e vizinhos que filmam.

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