maio 02, 2009

O LEITOR QUE VIRÁ...

Culpas. A Alemanha expia as suas. Em “O Leitor” o jovem Michael mergulha num lago buscando um recomeço, uma nova vida, expurgando suas decepções, o passado recente.
O ano é 1958, o que me deixou muito perturbada.

O tema é um acerto de contas com a história. O meu tema...
“Todos sabiam” grita o colega de Michael “Nossos pais, os professores...”
Fiquei impressionada com o eco de meu próprio trabalho. É muita coincidência.
Também dias atrás escutei na Gaúcha que estão preparando um documentário sobre esse período na voz de seis personagens. Usaram os mesmos princípios de pesquisa: entrevistas, jornais, filmes, chegaram a citar os concursos de miss... Com uma diferença: eles sabiam e os meus personagens juram que não. E por nada saberem resta a vergonha.
Negam sua omissão histórica.
A impotência não carrega culpa; a alienação, sim.
Em 1992 fiz uma Oficina de Criação Literária.

Escrevi na época um conto sobre esse período. O coordenador disse que não tinha relevância, que era muito pontuado pela época. Desanimei. Sem encorajamento, não levei adiante.
Agora, me proponho fragilmente a resgatar.

Por tudo isso, “O Leitor”, com o ator revelação, o alemão David Kross, com a interpretação comedida de Kate Winslet e a boa surpresa da participação de Bruno Ganz, foi o filme da hora: preciso levar adiante meu projeto. Rever essa geração que descobria o sexo, as drogas e o consumo desconhecendo a obscura história a tão poucos quilômetros de distância...
Com tudo que tenho no sótão e no coração, embaralhado, impreciso, fantasioso e verdadeiro, filmes, cartas, o lúdico e o cruel, descascar a cebola como escreveu Günter Grass, mesmo que a minha cebola seja pequena e suas escamas mais superficiais.
Um canivete, por favor.

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