PARTUREJANDO...
Durante muito tempo, principalmente aqui nesse cafundó
brasileiro onde habito, ouvia-se referencias ao jornalista Vladimir Herzog,
como o único caso de “suicídio de preso político” durante a ditadura. Foi
preciso a eleição da prefeita Luiza Erundina para prefeitura de São Paulo,
1989-1993, para que se “descobrisse” a
história macabra da Vala de Perus, no Cemitério Dom Bosco, destino final
de outros "suicidas" da época.
“O cemitério Dom Bosco foi construído pela
prefeitura de São Paulo, em 1971, na gestão de Paulo Maluf e, no início,
recebia cadáveres de pessoas não identificadas, indigentes e vítimas da
repressão política.
Fazia parte de seu projeto original a implantação de um
crematório, o que causou estranheza e suspeitas até da empreiteira chamada a
construí-lo.
Este projeto de cremação dos cadáveres de indigentes, do qual só
se tem notícia através da memória dos sepultadores, foi abandonado em 1976.
As
ossadas exumadas em 1975 foram amontoadas no velório do cemitério e, em 1976,
enterradas numa vala clandestina.”
Conforme reportagens divulgadas amplamente na internet,
Suzana Lisbôa, ex-integrante da Comissão de Mortos e Desaparecidos, esclareceu
os “suicídios” para nós, alienados e indiferentes a história...
“É fundamental que a Comissão da Verdade proceda ao
detalhamento das mortes para que os atestados de óbito possam ser corrigidos e
sejam retiradas as versões de falsos suicídios.
Na lista de casos de suicídios reais, provocados pelas seqüelas de sessões de tortura durante a prisão, consta Maria Auxiliadora Lara Barcelos, presa durante sete anos e barbaramente torturada. Acabou se jogando nos trilhos de um trem em Berlim, em junho de 1976.
Frei Tito de Alencar que durante 40 dias passou pelo pau de
arara, choques elétricos na cabeça e no órgão genital e foi preso à cadeira do
dragão, além socos e pauladas, pelos agentes de repressão Benoni Arruda
Albernaz , Maurício Lopes de Lima e Sérgio Paranhos Fleury. Acabou
se enforcando na França, em agosto de 74, aos 31 anos. Juarez Guimarães de
Brito, suicidou-se com um tiro no ouvido para não ser preso após tiroteio com
militares, em abril de 1970.
FALSOS SUICÍDIOS
A Comissão Nacional da Verdade promete comprovar a falsidade
de suicídios cometidos por militantes de esquerda durante a ditadura. A lista
sob análise da comissão tem 44 casos que não serão mais dados como suicidas.
Assim, a militante do PCBR Anatália de Souza Alves Melo não
se enforcou com a alça de uma bolsa nem ateou fogo ao próprio corpo enquanto
tomava banho na cela e sob escolta policial. Anatália foi assassinada e seu corpo queimado.
CASO VANNUCCHI LEME
Alexandre Vannucchi Leme, 22, cursava o quarto ano de
geologia na USP quando foi assassinado em março de 1973, durante sessão de torturas nas
dependências do DOI/CODI, com orientação
do major Carlos Alberto Brilhante Ulstra.
”Por volta das 17 horas, o carcereiro conhecido pelo nome de "Peninha" foi retirá-lo da cela para levá-lo para mais uma sessão de tortura. Alexandre não respondia aos gritos do carcereiro que, intrigado, entrou na escura cela-forte e constatou que estava morto, saindo da cela aos gritos de "o homem morreu".
Os torturadores correram todos para ver o corpo de Alexandre
e o retiraram da cela-forte, arrastando-o pelas pernas.
Tal cena, assistida por todos os demais presos recolhidos às dependências do DOI-CODI naquele dia era brutal: Alexandre sangrava abundantemente na região do abdômen.
Tal cena, assistida por todos os demais presos recolhidos às dependências do DOI-CODI naquele dia era brutal: Alexandre sangrava abundantemente na região do abdômen.
Um fato importante que evidencia a farsa montada para
encobrir o assassinato de Alexandre sob tortura é a declaração do delegado
Sérgio Fleury à família Vanucchi Leme que, em evidente e cínica confissão de
"fracasso" dizia "não ter sido possível obter de Alexandre
sequer o local de sua própria residência".
Dias depois, quando
sua morte já havia sido publicada pela imprensa, no IML/SP, foram informados
que havia sido enterrado como indigente no Cemitério de Perus.”
HERZOG GAUCHO
Angelo Cardoso da Silva, 26, gaúcho de Santo Antonio da Patrulha, assassinado em 23 de abril de
1970, quando se encontrava preso em Porto Alegre. As autoridades da época afirmaram que Ângelo
“suicidou-se” em sua cela com um lençol.
Sua necrópsia, feita no IML/RS pelos doutores Izaías Ortiz Pinto e Carlos B. Koch, afirma que o óbito se deu por enforcamento, confirmando a versão oficial da repressão e atestando sua morte no Presídio Central de Porto Alegre. Foi enterrado por sua família no Cemitério de Viamão.
Sua necrópsia, feita no IML/RS pelos doutores Izaías Ortiz Pinto e Carlos B. Koch, afirma que o óbito se deu por enforcamento, confirmando a versão oficial da repressão e atestando sua morte no Presídio Central de Porto Alegre. Foi enterrado por sua família no Cemitério de Viamão.
A lista completa dos mortos durante a ditadura, inclusive, a
estilista Zuleika Angel Jones,
assassinada no dia 14 de julho de 1976, na Estrada da Gávea, à saída do túnel
Dois Irmãos, no Rio, pode ser encontrada aqui: http://www.desaparecidospoliticos.org.br
* Em tempos de greve médica, aumento de planos de saúde,
contratação de médicos estrangeiros... Um pagina leva a outra, e a outra, e a outra... e a médicos
legistas que testemunharam “suicídios” no DOI/CODI e DOPS e que continuam por aí...
Dr. Isaac Abramovitch, “A polícia estourou, pela enésima vez, uma clínica de
abortos que funcionava aqui em Pinheiros, e desta vez levou preso o médico
responsável, Isaac Abramovitch.” http://flanelapaulistana.com/2008/03/o-mauzinho/
Dr. Harry Shibata, “Considerado o legista número 1 das vítimas da ditadura...” http://revistaforum.com.br/blog/2012/06/a-verdade-sobre-os-medicos-da-ditadura/
* Cecília Coimbra, presidente do Grupo Tortura Nunca Mais: “O Shibata e o Isaac Abramovitch, que era da equipe dele, conseguiram mandados de segurança. Nunca conseguimos nada contra eles.” Mas esses dois exemplos são, segundo Cecília, exceções. “Eles foram os dois únicos que escaparam. Nós abrimos 66 processos contra médicos da ditadura no CRM-SP e 44, no CRM-RJ. O Brasil é o único país que processou profissionalmente os médicos que participaram de tortura”. (...) “O Shibata devia ser julgado, condenado e preso. Ele e os outros legistas eram o fim da linha de produção no sistema de terrorismo de Estado. Aquilo era uma máquina muito bem azeitada”, afirma a presidente.
Dr. Izaías Ortiz Pinto, do Conselho de Representantes da Amrigs. http://www.amrigs.org.br/index.php?pagina=conselho_representantes
Dr. Arildo de Toledo Viana, cirurgião cardiovascular:
“... está para prestar concurso para professor titular do Departamento de
Cirurgia da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo.” http://www.abcdmaior.com.br/noticia_exibir.php?noticia=3809
Dr. Armando Canger Rodrigues: http://www.imesc.sp.gov.br/imesc/medicina.htm
Dr. Amílcar Lobo: “... mas ressalvando que atuava como
médico que aliviava as dores e procurava salvar os torturados... Depois de
várias ameaças e de se safar de pelo menos um atentado, Amílcar Lobo concluiu
que sua melhor defesa era denunciar seus antigos colegas de profissão.” http://www.torturanuncamais-rj.org.br/MDDetalhes.asp?CodMortosDesaparecidos=326
* Dossiê das mulheres mortas e desaparecidas políticas a
partir de 1964: http://www.aldeiaplanetaria.com.br/astro-sintese/dossie.htm
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