MISSIVA
“A carta é um escrito
que alguém envia a um ausente
para lhe fazer ouvir
seus pensamentos.”
Antoine Fauretière, em 1690.
Caríssima,
o termômetro explode em 47º por aqui. Águas senegalesas
vertem das minhas axilas, debaixo dos seios, na linha central da nuca. E todos
esses arroios se encontram aos meus pés como se em um lago salgado de algum
emirado árabe.
Ah... Os leques! - completamente inúteis, minha irmã! E assim não tenho coragem de abandonar o casarão.
À noite, a brisa úmida do rio vem para salvar meus sonhos. É quando deixo a janela aberta - um convite aos mosquitos. Cubro-me com panos encharcados. Caso adentre alguma criada desavisada, bem provável que fuja esbaforida. Devo parecer uma múmia.
Ontem, a carroça do gelo dos Irmãos Bopp não passou por aqui. Haja
serragem suficiente para segurar a dureza das pedras nesse inferno. Portanto,
caríssima irmã, estou há três dias sem uma gota de champanhe. Perdoe essa carta
tão mínima. Mas até escrever, derrete minhas intenções espirituais nessa São
Gabriel de Lajeado.
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