#RUY CASTRO
Parabéns, Bolsonaro, você conseguiu.
Depois de três anos dedicado a entregar a Amazônia aos
barões do desmatamento,
garimpo, caça e pesca ilegais;
aos invasores de terras, envenenadores de rios, algozes dos
indígenas e abusadores de suas mulheres, pistoleiros profissionais e
traficantes de ouro, madeira, animais e, agora, cocaína;
a desmantelar a fiscalização que impedia a destruição da
floresta;
e a prostituir os ramos locais do Ibama, da Funai, da
Polícia Civil, da Polícia Militar e do Exército, sua obra atingiu um novo
clímax:
o desaparecimento do indigenista Bruno Pereira e
do jornalista britânico Dom Phillips.
Que, à espera só da confirmação, já podem estar mortos desde
domingo.
Tudo leva a essa conclusão: seus celulares não conseguem ser
rastreados; o barco também desapareceu; e o sumiço se deu numa área limitada e
familiar.
Some a isso o histórico de ameaças a Pereira e a patada
desfechada por você no próprio Phillips, numa entrevista em 2019, lembra-se?
"A Amazônia é do Brasil, não é de vocês!".
Mas a Amazônia não é mais do Brasil — Bruno, por exemplo, é
brasileiro.
Os assassinos de Bruno e Dom, se já estavam certos da
impunidade, viram-se ainda mais seguros diante do corpo mole das autoridades e
do seu desprezo presidencial pelo caso, ao culpar os dois pela
"aventura" e emitir um diagnóstico que nos envergonha como nação:
"Eles podem ter sido executados",
disse você, com notável tranquilidade.
O apagamento de brasileiros como Bruno Pereira é regra nessa Amazônia sem lei.
Mas Dom Phillips é um cidadão britânico, credenciado por organizações internacionais de proteção ao meio ambiente e jornalista ligado a dois veículos poderosos: o inglês The Guardian e o americano The New York Times.
Eles não deixarão barato e, de repente, você periga ter de engolir mais
do que poderá mastigar.
O mundo já quer saber, Bolsonaro: onde estão Bruno e Dom?
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