ENQUANTO ISSO EM BUENOS AIRES
'Somos filhas biológicas desses genocidas, mas repudiamos o que nossos pais fizeram', diz Paula, cujo pai trabalhava para a polícia secreta — Foto: Paula / Historias Desobedientes/Via BBC
Uma dica do jornalista Adriano Mazzarino no
feissibuqui, mostra a reportagem dos filhos dos torturadores argentinos, que descobriram a
verdadeira identidade dos pais.
E de como muitos desses filhos reagiram: se afastando, cortando
relações, contando a verdade para os netos dos avôs monstruosos.
Alguns trechos da reportagem:
Analía: Ao ponto de um dia me ligarem da creche: 'Olha,
precisamos marcar uma reunião, porque Gino (filho mais velho, então com 4 anos)
disse aos colegas de turma que o avô dele (Kalinec) estava na prisão porque havia matado
muitas pessoas'. E os colegas começaram a perguntar se ele tinha metralhadoras,
se tinha tanques... A professora ficou chocada.
É um exercício constante conciliar essa imagem do Doutor K
com a do pai amável. No que se refere à vida em família, lembro dele fazendo
cócegas, nos abraçando...
Me lembro de dizer 'de um lado está meu pai, e do outro
lado, o genocida'.
Mas ao trabalhar isso na terapia, acabei reconhecendo que
não, que é sempre a mesma pessoa, uma única pessoa com uma parte que
mantém oculta, mas que faz parte dela e que não me engana mais."
Analía: "Ainda estou esperando meu pai falar. Eu sei
que ele tem informações confidenciais. Sobre os desaparecidos, talvez sobre
algum bebê que foi sequestrado e entregue a famílias que apoiavam o governo
militar.
Ao contrário de outros agentes da repressão que estão senis,
meu pai está lúcido, tem uma memória prodigiosa. E saber o dano que continua
provocando com seu silêncio cúmplice e criminoso me machuca muito."
Paula: "Quando você guarda um segredo por tanto tempo,
conversar ajuda a lidar com a vergonha, um sentimento que muitos de nós
compartilhamos no coletivo. Vergonha porque você sabe o que sabe, porque
precisa se calar, porque tem medo do que as pessoas vão pensar.
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