maio 13, 2013

TEZZA, FONSECA, LYGIA...


 Ilustra de Rafael Corrêa

“Eu queria ser rico, sair da merda em que estava metido! Tanta gente rica e eu fudido.”

“Os homens e mulheres no chão estavam todos quietos e encagaçados, como carneirinhos. Para assustar  ainda mais eu disse, o puto que se mexer eu estouro os miolos.  Então, de repente, um deles disse, calmamente, não se irritem, levem o que quiserem, não faremos nada. 
Fiquei olhando para ele. Usava um lenço de seda colorida em volta do pescoço. 
Podem também comer e beber a vontade, ele disse. 
Filha da puta. As bebidas, as comidas, as jóias, o dinheiro, tudo aquilo para eles era migalha. Tinham muito mais no banco. Para eles não passávamos de três moscas no açucareiro.”

O conto “Feliz Ano Novo”, de Rubem Fonseca foi lançado em 1975. Não é atual, condizente com a nossa realidade?

Fui procurar na internet:
“Um ano depois do lançamento, quando o livro já tinha vendido 30 mil exemplares e uma quarta edição estava prestes a ser distribuída às livrarias, “Feliz ano novo” foi proibido pelo ministro da Justiça de Ernesto  Geisel, Armando Falcão, com uma alegação muito comum na época: a de atentar contra a moral e os bons costumes.
Um senador da Arena, o partido do Governo, chegou a dizer que se tratava de “pornografia pura”..

...na entrevista alguem questiona o escritor-personagem se ele é pornográfico: 

“Sou, os meus livros estão cheios de miseráveis sem dentes”, responde.

Rubem Fonseca não falou, mas agiu. 
Moveu uma ação contra a União por perdas materiais e danos morais. Enquanto os leitores brasileiros faziam fila com amigos que tinham um exemplar, o livro era publicado na Espanha e na França. 

Seria liberado no Brasil em 1985, mas reeditado apenas quatro anos depois, quando o autor ganhou a ação na Justiça.

E estão aí os contistas atuais se inspirando conforme a realidade ao seu redor e promovendo sentimentos antagônicos.

Sim, escrever é um “fetiche solitário”  já dizia Terry Eagleton, filósofo e crítico literário. 


Lygia Fagundes Telles

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