junho 12, 2011

RENÉ, SIBILA & EU





Somos humanos ou somos coisa? – perguntei ao meu all star enquanto caminhava sobre o valão cloacal da cidade que habito. 
Tempos úmidos e neurônios tiritando: será que não somos uma maquininha de moer carne? 
Ou seremos apenas um mero ipad? 
Ou um liquidificador simplificado? 
Um bicho? 
Uma preguiça, um pavão, um porco?
Nãoooo.
Sois uma “coisa pensante” disse um tal de René, filho do seu Descartes.

Sim,  como pensantes temos uma alma. 
E talvez uma linda alma.
E bicho? Bicho tem alma. Tem?

Tem, só que a bicharada é desprovida de moral.
Ta certo: é aí que a gente se diferencia dos animais, se afasta e se supera.
Nem todos claro! 
Tem besta humana com alma estuprando criancinha, derrubando mata virgem e comprando nosso voto.
Então ta, ô René,  a gente acredita que o homem é um ser pensante, que sabe dialogar, que segue um código moral, quase sempre  precário, porém o Homem sabe da sua existência. E bicho?

Bicho não conversa.
Não troca receita, não faz fofoca.
Não  dá conselho, não passa informações, não sabe baixar download de filmes e música.
Nossos bichos, nossos afetos.
Mas nós somos coisa pensante - que governa uma cidade, um país.
Sendo que alguns se acham no direito de governar o planeta.
Eu não consigo nem governar minha casa.
Desculpe, os neurônios trincaram de vez.
*
Por falar nisso, dias atrás minha amiga Sibila, a mais trágica de todas, segurando a cuia quente nas mãos  desabafou:

- Eu tomo todos os dias uma pílula de conformismo ao levantar.
Olhei com uma tristeza para ela.
- E quando vou me deitar, tomo dois. E tu?
- Eu engulo um omeprazol – respondi conformada com a delicadeza das minhas tripas. 
- É... Porque para viver com tanta bandalheira nessa vida só tendo estômago -  e Sibila deixou escapar um suspiro de apagar círio no altar e serviu outro chimarrão.
*
Enquanto pensava no conformismo da Sibila - atitude de quem se conforma com todas as situações –  tratei de me afastar do valão fedido.
Uma coisa é se conformar com as questões divinas e governamentais.
Outra é aceitar que a vida dá, a vida tira. 
Inclusive uma paixão.
*
- Nova paixão pra que?
- Pra chacoalhar a alma, Sibila!
- A gente é apenas um cabide.
Desisto. 
Às vezes, Sibila contagia.


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