novembro 05, 2009

NOVOS TEMPOS

Quando nasci o mundo se dividia entre comunistas e os kennedys.
E só existiam dois grupos de mulheres: as que sabiam cozinhar e as que sabiam fritar um ovo, ferver uma leiteira de leite, essas coisas.
Minha mãe era das que sabia cozinhar. Sua comadre, não. Estudara no Sevigné e entendia de Filosofia e Geometria.
Cresci usando uniforme branco, laço engomado no pescoço e vendendo rifa de mais bela prenda só para comprar Grapette na esquina.


Mas, quando os estudantes foram barricar nas ruas do Quartier Latin, as mulheres sofreram uma nova divisão: as que usavam sutiã e as que haviam queimado os seus em praça pública. Foi uma fumaceira liberal e tanto. Feliz daquelas que tinham peito tamanho taça de bolë. Usem a imaginação...
As que continuaram usando sutiã fizeram plástica no sentido inverso aos tempos de hoje, quando a maioria turbina os peitos com decalitros de silicone. Uma metade curtiu os vinis do Roberto e dos Beatles; a outra dos Mutantes e Stones.

Não deveria ser assim, mas na geração seguinte uma nova divisão: as que sabiam todos os passos coreografados de Saturday Night Fever e as que disfarçavam, tentavam e fracassavam. Foram tempos significativos aqueles... Ou você tinha uma turma ou estava purfa.


As mulheres também se dividiram entre aquelas que foram estudar em Porto Alegre e as que casaram e hoje estão por aí questionando as paredes, o teto e os ninhos de marimbondos.

Sempre foi assim: ou tudo ou nada. Preto e branco. Católicos ou evangélicos. Arena e Mdb. Maconheiros e caretas. Galinhas e santinhas... E nada mudou.

Nos anos 90, mais recente, o que aconteceu com a discrepância feminina? Foram se tatuar. Nessa década ou você tinha uma tatoo ou você não viveu tempos pregressos e emocionantes, sabe cumé? Aposto que você pensou que eu falaria sobre internet? Mulheres conectadas ou não. Muito óbvio. Assim como o pagode: as que gostam ou disfarçam que não gostam.

Então, no ano 2000, acontece uma divisão fundamental entre todas criaturas do sexo feminino, uma coisa que mudaria para sempre os desígnios da raça. E não me refiro aquelas que separam o lixo seco ou não.
Surgiram dois tipos de mulheres bem definidas:

Natassja Kinski by Richard Avedon

- as que se depilam e as que não depilam.

Não adiantou se libertar da cozinha, ensinar os homens a cozinhar, queimar os sutiãs, tirar e botar seio, dançar com um pingo de coordenação os passos dos embalos de sábado à noite, entrar na www, nada disso. Toda inteligência, bom senso e estoicismo esbarrou na escravização e dor da................ cera quente.


Não sei como isso começou. Mas sei como vai terminar: cpi dos pelos. Sendo que ninguém vai entender direito porque depois que também depilaram o acento do vocábulo “pêlo” tudo se transformou numa coisa só e já tem gente acreditando que num futuro próximo não haverá mais distinção nem entre homens ou mulheres, o que dirá entre elas.

Só existirá seres de um único sexo e não será preciso transar para fecundar.
Seremos uma raça hermafrodita. Podem apostar.
Minha mãe sabe cozinhar, usou sutiã a vida inteira, nunca dançou aquelas esquisitices da Donna Summer, não obrigou o marido a lavar louça, tampouco cozinhar, não coloriu passarinho no ombro e, graças a deus, não tomou conhecimento da tirania da cera quente.

Atualmente está lotada no departamento “em extinção”.


* Antes que algum desavisado interprete mal, saiba que algumas das personalidades mais importantes do século XX foram registradas pelas lentes de Richard Avedon.

Um fotógrafo que dá nome a uma Fundação não é pouca coisa nessa nossa existência relapsa.
Avedon, fotógrafo-filósofo graduado pela universidade de Columbia, em Nova Iorque. O cara que viu Fred Astaire interpretar sua própria pessoa e viver sua carreira em “Fanny Face”.
No ano em que nasci, a Popular Photography reconheceu o artista como um dos 10 melhores fotógrafos do mundo. Durante 34 anos trabalhou na conceituada Vogue.

Clicou o movimento anti-guerra na América do final dos anos 60 e no Vietnã na década de 70. Em 1982 passa a fazer parte da “Hall of Fame” do Art Director's Club.

Ganhou inúmeros prêmios, lançou livros, foi objeto de exposição, fez teatro.

Morreu trabalhando no dia 1 de Outubro de 2004.
Espia na Wikipédia para saber mais sobre o papa da Fotografia.

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