junho 16, 2009

QUERIA SER LIVRE

Queria ser uma andarilha. Queria ser uma andarilha corajosa. Queria ser uma andarilha corajosa e insensata. Queria poder sonhar de novo a cada estação.

Porque mudaram as estações e nada mudou...
Canta do além Renato Russo, imaginando que algo possa se modificar.

Era uma das minhas canções suicidas preferidas, principalmente no último verso.

Não saio, cada vez mais muda, telefone desligado, aquela paranóia dos últimos quatro anos desde que perdi a esperança e nunca mais a encontrei.

Mas, às vezes, é preciso ir até o mercado comprar pão de milho, schmier da colônia e nata... Em meia hora de rua escuto um homem, viúvo, de 65 anos dizer que existem 10 homens para cem mulheres: três são drogados, um é bêbado e um é assim, assim, não se sabe bem.
- E os outros cinco? - ainda me presto...
- São “viado”.

Depois reencontro uma amiga das “antigas” que veio buscar pinhão.
Ela ruim de rugas, eu pior ainda, mas não falamos sobre nossa decadência. Até ela dizer que dona Ermínia, de 80 anos, anda transando mais do que nós duas juntas. Minha amiga com o amante, eu com o marido e dona Ermínia com o guarda-noturno de 64 anos.

Quando estou no caixa pagando as compras, um conhecido assopra no cangote:
- E aííí, tudo bem?
Eu um lixo, vestindo algo entre pijama ou moletom de faxina, nariz entupido de gripe, cabelos endemoninhados, me volto:
- Não. Tudo uma merda – e devolvo o melhor sorriso que consigo forçar.
- Cruzes... Continua reclamona.
- E tu queria o que vivendo nesse cu de cidade?
- E eu que escolhi viver aqui? Tu nasceu onde?
- Santa Cruz.
- Viu! Podia ser bem pior viver na terra daquele deputado.
- Sinceramente, tenho minhas dúvidas.

E saí de fininho odiando cada vez que a rotina me obriga a sair de casa.

Quando voltei do feriadão e entrei na cidade era como se meu pai estivesse me puxando pela orelha e dizendo: fica aqui de castigo até eu mandar sair.

Por isso quando Renato Russo canta “Agora tanto faz, estamos indo de volta pra casa” só consigo pensar na andarilha interna que um dia imaginei que seria. E choro de frustração, como chorava no cantinho escuro da minha infância.


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