maio 05, 2025

ENCHENTE III


A revista eletrônica Parêntese, de Porto Alegre, tra vários relatos sobre aenchente que devastou o Vale do Taquari e a grande Porto Alegre. Tem texto meu, agradeço!


REVOLTA

Estávamos em Garopaba, praia de nordestão e águas geladas. A previsão do tempo para o feriadão do Dia do Trabalho era de chuvas. Chegamos na segunda-feira, 29 de abril, com um chuvisco. A intenção era de voltar no domingo seguinte, bem cedinho. 

- Mãe, aqui em Lajeado não para de chover e já deu enchente. Como tá aí? 

A história toda é bem conhecida e logo imagens de horror começaram a lotar o meu celular.

Inacreditavelmente, no dia 1º de maio de 2024, as águas barrentas do Rio Taquari cobriram a BR-386. Nem a enchente de 1941, a pior delas, conseguiria o feito se a ponte lá existisse, mas eram tempos de barca entre Estrela-Lajeado. Aliás, uma bateu no pilar da ponte, comprometendo a estrutura e por isso, interditada.  A antiga ponte de ferro sobre o rio Forqueta, que liga Arroio do Meio, foi levada. Depois, a outra na ERS-130. O caos se instalava.

Relatos surreais de pessoas presas nos telhados, de caícos amarrados nos postes e nas árvores, de corpos humanos e de animais  que desciam pelas águas violentas do rio. Amigos íntimos viviam dias de pânico. As pessoas se refugiavam como podiam em ginásios e parentes. Dessa vez, uma enchente que atingia pobres e ricos. Até a casa do prefeito, num condomínio.

Assim que as águas baixaram, a situação apavorante foi parar na Matinal, no Jornal Nacional e na imprensa estrangeira. E nós angustiados, sem poder retornar da praia por quase um mês, porque não se conseguia sequer passar por Porto Alegre.

Relembrar é cutucar a raiva, o medo e a tristeza.

Raiva, dos governantes que continuam a incentivar a destruição ambiental.

Medo, quando vejo o céu se fechar e a previsão da meteorologia citar um cavaco e fortes precipitações de chuvas.

Tristeza, porque para muitos não foram apenas bens materiais, mas toda uma vida de trabalho árduo perdida, quando não pagaram com a própria existência.

Passado um ano, Lajeado e as cidades vizinhas não se recuperaram.

Indústrias, pontos comerciais, entidades, igrejas, lares, enfim, bairros inteiros em ruínas. Mas nada como um Cristo Protetor para velar por todos, do alto do morro arrasado pela ação humana. 

Foto de Carolina Leipnitz, da internet.


 

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