ENCHENTE III
REVOLTA
Estávamos em Garopaba, praia de nordestão e águas geladas. A previsão do tempo para o feriadão do Dia do Trabalho era de chuvas. Chegamos na segunda-feira, 29 de abril, com um chuvisco. A intenção era de voltar no domingo seguinte, bem cedinho.
- Mãe, aqui em Lajeado não para de chover e já deu enchente. Como tá aí?
A história toda é bem conhecida e logo imagens de horror começaram a lotar o meu celular.
Inacreditavelmente, no dia 1º de maio de 2024, as águas barrentas do Rio Taquari cobriram a BR-386. Nem a enchente de 1941, a pior delas, conseguiria o feito se a ponte lá existisse, mas eram tempos de barca entre Estrela-Lajeado. Aliás, uma bateu no pilar da ponte, comprometendo a estrutura e por isso, interditada. A antiga ponte de ferro sobre o rio Forqueta, que liga Arroio do Meio, foi levada. Depois, a outra na ERS-130. O caos se instalava.
Relatos surreais de pessoas presas nos telhados, de caícos amarrados nos postes e nas árvores, de corpos humanos e de animais que desciam pelas águas violentas do rio. Amigos íntimos viviam dias de pânico. As pessoas se refugiavam como podiam em ginásios e parentes. Dessa vez, uma enchente que atingia pobres e ricos. Até a casa do prefeito, num condomínio.
Assim que as águas baixaram, a situação apavorante foi parar na Matinal, no Jornal Nacional e na imprensa estrangeira. E nós angustiados, sem poder retornar da praia por quase um mês, porque não se conseguia sequer passar por Porto Alegre.
Relembrar é cutucar a raiva, o medo e a tristeza.
Raiva, dos governantes que continuam a incentivar a destruição ambiental.
Medo, quando vejo o céu se fechar e a previsão da meteorologia citar um cavaco e fortes precipitações de chuvas.
Tristeza, porque para muitos não foram apenas bens materiais, mas toda uma vida de trabalho árduo perdida, quando não pagaram com a própria existência.
Passado um ano, Lajeado e as cidades vizinhas não se recuperaram.
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