outubro 05, 2022

DO MEU BLOQUINHO


Fui comprar fogos para soltar no dia 2. Pela primeira vez. Nem sabia qual escolher. Quando saí da loja, uma fraqueza nas pernas, um peso nos ombros. Um cheiro ruim que pensei vir da lixeira, na calçada. Mas não. Eu que não tenho pressentimentos, não dou a mínima para olho gordo ou macumba nas esquinas, não sinto nada com reiki ou benção espírita ou do candomblé, dessa vez senti. Algo forte que me travou. Um arrepio na nuca.
Algo que grudou em meu corpo e veio junto para o sol da tardinha.  Uma energia ruim, coisa que nunca tinha sentido. A explicação dou por conta das pessoas que trabalham na loja e das coisas que vendem: armas.  Aquilo foi algo muito ruim. Lá dentro já senti uma pressão no peito. Inexplicavel. Lembrei de meu irmão que pegou de cima do armário a arma de meu pai. Ele tinha 19 anos. Isso foi há 40 anos.
Não sei como minha mãe sobreviveu à dor. Meu pai desmoronou e nunca mais foi o mesmo. A culpa é uma sensação que nos adoece. A razão da insônia é a culpa que carregamos. Aí vem esse monstrengo e libera as armas. Posso comprar  seis armas. Uma para cada um aqui de casa. Podemos todos combinar e sair matando nas calçadas. Podemos entrar numa escola e alvejar vários alunas e professoras, ao mesmo tempo. Esse é o monstro que tu defende com teu voto.  Só espero que não sobre pra ti, teu filho ou teu neto.

 

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