setembro 15, 2021

DIA DE ÁUDIO CRÔNICA


 O ESPETÁCULO CONTINUA

“Para que fingir no palco, se fingimos todos, diariamente?

Se a própria vida é um fingimento da natureza,  cuja única verdade é a morte?” - pergunta o dramaturgo Eugene Ionesco, Pai do Teatro do Absurdo.

Dizem que a vertente filosófica do Existencialismo surgiu para explicar o espanto do homem após a 2ª guerra e seus horrores bélicos. Sem esperança, os homens foram obrigados a contemplar o seu próprio vazio, a sua própria desumanidade e a sua falta de comunicação num mundo sonâmbulo.

Em 1961, em plena ditadura, o gaúcho Walmor Chagas montou O Rinoceronte, de Ionesco. Sobre o que se tratava?

Um pesado rinoceronte surge na rua de uma cidadezinha. Algumas pessoas acham que aquilo é uma miragem. Outras, que é preciso chamar a policia.

As pessoas discutem amenidades sobre aquela aparição animalesca que não vai embora. Até que o rinoceronte surpreende a todos e  esmaga com a sua pata, um gato.

Aos poucos, as pessoas sentem os sintomas  de uma rinocerontite e se transformam no animal. Menos o personagem Bérenger.

O rinoceronte é uma grande sátira ao nazismo, ao pensamento fascista.

Os eleitores de Bolsonaro talvez não soubessem do que esse rinoceronte seria capaz de fazer. Votaram nele. E continuaram a tocar a vida.  Fizeram o mesmo que os personagens passivos de Ionesco:  ignoraram o paquiderme criminoso. E logo as autoridades, a imprensa, as instituições também se viram bolsonerontes.

Até o infeliz Bèrgere  fica na duvida se não seria melhor ele também ter um chifre na testa, a pele dura e gestos animalescos,  como todos aqueles que se transformaram em rinocerontes.

Essa peça teatral é uma crítica aos conformados, aos alienados que acham que o rinoceronte que elegeram é um sonho. Mas é um pesadelo.

Não duvido que a pata de Bolsonaro, e seu paquiderme exercito, nos esmague.

E, talvez,  nós sejamos os anormais que não viraram rinocerontes, e por isso  precisam ser eliminados.

Mas, Bèrgere não se entrega e diz:

“A mim é que vocês não pegam! Eu não vos seguirei! Eu não vos compreendo! Continuarei como sou. Sou humano, um ser humano!”

Ahhh, o teatro... Tão sofrido teatro, sempre.

Trilha sonora:  Além do arco íris, com Yo-Yo Ma e Kathryn Stott .

https://www.youtube.com/watch?v=03GpPfOsFkQ








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