DIA DE ÁUDIO CRÔNICA
O ESPETÁCULO CONTINUA
“Para que fingir no
palco, se fingimos todos, diariamente?
Se a própria vida é um fingimento da natureza, cuja única verdade é a morte?” - pergunta o dramaturgo Eugene Ionesco, Pai do Teatro do Absurdo.
Dizem que a vertente
filosófica do Existencialismo surgiu para explicar o espanto do homem após a 2ª
guerra e seus horrores bélicos. Sem esperança, os homens foram obrigados a
contemplar o seu próprio vazio, a sua própria desumanidade e a sua falta de
comunicação num mundo sonâmbulo.
Em 1961, em plena
ditadura, o gaúcho Walmor Chagas montou O Rinoceronte, de Ionesco. Sobre o que
se tratava?
Um pesado
rinoceronte surge na rua de uma cidadezinha. Algumas pessoas acham que aquilo é
uma miragem. Outras, que é preciso chamar a policia.
As pessoas discutem
amenidades sobre aquela aparição animalesca que não vai embora. Até que o
rinoceronte surpreende a todos e esmaga
com a sua pata, um gato.
Aos poucos, as
pessoas sentem os sintomas de uma
rinocerontite e se transformam no animal. Menos o personagem Bérenger.
O rinoceronte é uma
grande sátira ao nazismo, ao pensamento fascista.
Os eleitores de
Bolsonaro talvez não soubessem do que esse rinoceronte seria capaz de fazer.
Votaram nele. E continuaram a tocar a vida.
Fizeram o mesmo que os personagens passivos de Ionesco: ignoraram o paquiderme criminoso. E logo as
autoridades, a imprensa, as instituições também se viram bolsonerontes.
Até o infeliz
Bèrgere fica na duvida se não seria
melhor ele também ter um chifre na testa, a pele dura e gestos
animalescos, como todos aqueles que se
transformaram em rinocerontes.
Essa peça teatral é
uma crítica aos conformados, aos alienados que acham que o rinoceronte que
elegeram é um sonho. Mas é um pesadelo.
Não duvido que a
pata de Bolsonaro, e seu paquiderme exercito, nos esmague.
E, talvez, nós sejamos os anormais que não viraram
rinocerontes, e por isso precisam ser
eliminados.
Mas, Bèrgere não se
entrega e diz:
“A mim é que vocês não pegam! Eu não vos
seguirei! Eu não vos compreendo! Continuarei como sou. Sou humano, um ser
humano!”
Ahhh, o teatro...
Tão sofrido teatro, sempre.
Trilha sonora: Além do arco íris, com Yo-Yo Ma e
Kathryn Stott .
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