DESAPEGO
Somos inexplicáveis, imprevisíveis, muitas vezes não nos
enquadramos. Um prato cheio para nos
definir criaturas angustiadas. Ontem juntei trinta livros e a cabeça de uma
boneca para chamar atenção com um cartaz: “Agasalhe um livro” – algo como leve, leia e devolva -
no muro da minha casa, junto à calçada. A vizinhança achou que pirei de vez. Os
pedestres pensaram tratar-se de uma pegadinha. Uma senhora passeando com seu cachorro
bateu palmas para chamar alguém que explicasse a real intenção do inusitado:
- Apenas, leve.
- Mas eu demoro para ler.
- Um dia você devolve para que outro também possa ler –
encerrei.
E o cachorrinho partiu levando sua dona pela coleira, murmurando tudo é tão caro. Depois, nem mais um livro foi agasalhado.
Acho que a disposição mural não agradou. Vou pensar em outra tática literária.
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A cultura egoística enbruteceu a natureza humana. Não sei porque lembrei de Sylvia Plath: “Respirei fundo e escutei o velho e orgulhoso
som do meu coração. Eu sou, eu sou, eu sou." - tão atual nos dias de hoje.
Depois não sabem porque se suicidam, com suas consciências beirando o precipício
do ego.
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