junho 09, 2016

DESAPEGO

Somos inexplicáveis, imprevisíveis, muitas vezes não nos enquadramos. Um prato cheio  para nos definir criaturas angustiadas. Ontem juntei trinta livros e a cabeça de uma boneca para chamar atenção com um cartaz:  “Agasalhe um livro” – algo como leve, leia e devolva - no muro da minha casa, junto à calçada. A vizinhança achou que pirei de vez. Os pedestres pensaram tratar-se de uma pegadinha. Uma senhora passeando com seu cachorro bateu palmas para chamar alguém que explicasse a real intenção do inusitado:
- Apenas, leve.
- Mas eu demoro para ler.
- Um dia você devolve para que outro também possa ler – encerrei.
E o cachorrinho partiu levando sua dona pela coleira,  murmurando tudo é tão caro. Depois, nem mais um livro foi agasalhado.
Acho que a disposição mural não agradou. Vou pensar em outra tática literária.
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A cultura egoística enbruteceu a natureza humana. Não sei porque lembrei de Sylvia Plath:  “Respirei fundo e escutei o velho e orgulhoso som do meu coração. Eu sou, eu sou, eu sou." - tão atual nos dias de hoje. Depois não sabem porque se suicidam, com suas consciências beirando o precipício do ego. 

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