junho 27, 2011

MICRO-HISTÓRIA

Domingo de manhã silenciosa e uma caminhada até a beira do rio Taquari.
Observâncias de percurso: todas as cidades do interior começaram assim?
A igreja, a prefeitura e a escola ao redor de uma praça com árvores patriarcais?
Às vezes, hoje, um Banrisul na esquina.
Às vezes, ontem, um hotel assombrado, na outra.

Pois a rua mais antiga de minhas lembranças em Lajeado é vizinha perene do rio e ainda preserva, oxalá, grandes paineiras. É a Osvaldo Aranha. Com ou sem enchentes.
Talvez a homenagem explique nossas origens políticas: os chimangos de Borges de Medeiros apoiado pelo efêmero governador Aranha que depois viria se incrustar no PL e UDN, mais tarde abrigados devidamente sob os coturnos da ARENA e então nova metamorfose para aglutinar o PFL aí virando DEM e PP  ou sei lá mais o que -  governo sem trégua  na cidade que escolhi para viver.
E é ainda  na Osvaldo Aranha que se encontra o primeiro calçamento da cidade disputando espaço com o iminente asfalto e com uma ciclovia que atrai - quanta ironia - crackeiros e caminhantes saudáveis quase lado a lado.

Outrora, os sobrados rivalizavam em beleza com os casarões da Julio de Castilhos, esta sim, ainda hoje a principal rua de Lajeado - com seus aluguéis comerciais extrapolando o ridículo. Em algumas destas verdadeiras casas de memória, os proprietários insensíveis tocaram fogo. Outras foram reformadas dando lugar a supermercado e pontos comerciais de estética tacanha. E assim, as poucas moradias - ainda resistentes - lutam para preservar a história da cidade, como o primordial Banco Alemão construído no início dos anos 30, prédio que se deteriora dia a dia.
Um parêntese: como anda a preservação do patrimônio histórico de sua cidade?

Continuando minha caminhada e avançando à sombra dos 120 anos de Lajeado chego à  Praça Marechal Floriano ou Praça da Matriz e contemplo a Casa de Cultura e ex-prefeitura e alguns casarios teimosos na Borges de Medeiros; no outro lado da praça, já na Bento, o silêncio acolhedor da Igreja da Matriz e o antigo colégio dos irmãos Maristas depois Colégio Estadual  Presidente Castelo Branco, outra homenagem para reafirmar nosso potencial político. Dobro à direita na rua Mal. Deodoro: o velho Fórum da cidade e atual Brigada Militar assim como o “moderno” Correio, infelizmente, prédio abandonado. 
Voltando para a Julio: a querida papelaria Cometa, a casa da família Müller desde 1940 e o lar das irmãs Jaeger construído em 1926; dessa esquina pode se ver a antiga escola da cidade edificada em 1930, depois transformada em  rodoviária e hoje um cabaré decadente. Não deixa de ser pitoresco.



As cidades são assim: umas valorizam a herança deixada pelos antepassados.
Cultivam suas lendas e personagens populares.
Outras, não. Apenas cidades-verniz onde poucos se dão por vencido.
No passado, acomodava-se na principal ruazinha do interior, o barbeiro, a  rodoviária, o posto bancário.
Hoje, o coiffeaur, o shopping e o wallmart.
Voltar está muito próximo de não se reconhecer, não é? 

* Crônica nos jornais A Hora, Opinião.

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