novembro 14, 2025

CARTA ABERTA DE TÉIO AO EX-PREFEITO MARCELO CAUMO


 Marcelo,

Escrevo esta carta com a mesma angústia que tomou conta de milhares de famílias quando a água subiu e levou casas, histórias, móveis, documentos, sonhos. 

Enquanto o povo amanhecia apenas com um marmitex frio na mão, tentando entender como reconstruir a vida do zero, hoje nós amanhecemos com outra notícia: R$ 411 mil encontrados em um cofre ligado à tua família, um cofre cuja senha era tua, mesmo anos depois de ter assumido a prefeitura.

E eu te pergunto, Marcelo — como é que tu dorme à noite?


Como alguém que conhece o Direito, que teve salário de prefeito, estrutura, poder e confiança pública, consegue encostar a cabeça no travesseiro sabendo que, naquele mesmo período em que tu governava ao lado da então vice-prefeita, a cidade viveu uma das maiores tragédias da sua história… 

E agora vê teu nome no centro de suspeitas tão graves?

Tu diz que o dinheiro é “privado”, “particular”, “de terceiros”. Que “trabalhar com dinheiro vivo é legal”. Mas explica, Marcelo:

Por que esse recurso estava em um cofre cuja senha só tu possuía?

Por que R$ 411 mil em espécie enquanto tanta gente precisava de colchão, remédio, gás, comida?

Por que sempre respostas vagas quando o povo precisa de clareza?


Eu não estou falando apenas de burocracia, de contratos, de investigações. 

Estou falando de consciência. De humanidade. De moral.


Que tipo de coração consegue ver um Vale inteiro devastado, famílias inteiras dependendo de doações, mães com filhos no braço sem ter pra onde ir — e, anos depois, surgir envolvido em um episódio que revolta até quem nunca te conheceu?

Tu pode dizer que tudo será “explicado em juízo”. 

Mas enquanto a Justiça faz seu trabalho, eu te pergunto como cidadão, como vizinho, como alguém que vive a realidade que tu administrou:

Tu olha pra essa situação sem sentir vergonha?

Sem sentir o peso moral do que isso representa?

Sem lembrar das pessoas que perderam tudo enquanto tu guardava uma senha que agora o país inteiro quer entender?

Marcelo, tu pode até tentar justificar juridicamente.


Mas moralmente… Como é que tu encara o espelho?

Porque nós aqui, que enterramos gente, perdemos casa e recomeçamos do zero, seguimos olhando pra tudo isso com uma mistura de indignação, tristeza e revolta.

E tu?

Segue dormindo bem?

Atenciosamente,

Téio

Jardim do Cedro

 

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