novembro 21, 2023

O MACHISMO SOLIDIFICADO EM LAJEADO


 No ano de 2014, no blog Abrindo o Baú, o professor Schierholt já estranhava:

“Em Lajeado, segundo a Listagem da Prefeitura fornecida por Ângela Cunha em 8-4-2014, dos 967 nomes de avenidas, ruas, travessas e praças, apenas 82 homenageiam a mulher, incluindo as ruas Nossa Senhora do Caravággio, Nossa Senhora da Conceição e Nossa Senhora de Lourdes, que é a mesma pessoa da Mãe de Jesus Cristo. Esse fato representa apenas 8,47%. Por quê?” 

Depois de 5 anos, numa rápida pesquisa no maps pelas ruas onde caminho, e em bairros mais distantes, escrevi aqui no blog:



“... os vereadores de Lajeado homenagearam  os homens batizando com seus nomes, 56 ruas. Caminho por outras ruas que lembram 7 estados, 4 datas históricas, 3 relacionadas a santos ou paz. Uma rua homenageia uma associação, outra um passarinho, uma fabrica de cigarro  e uma lembra o rio.”

Anotei q vi um ou outro nome de mulher. No bairro Florestal, uma rua honra a ex-diretora do Grupo Escolar Fernandes Vieira, Zélia Abichequer e, outra rua, homenagem à Clélia Jaeger Betti. 

Em bairros mais distantes do centro, encontrei no Campestre, a rua Cecília Catarina Sulzbach e r. Eva Maria Nunes. 

E foi isso. Tempo depois, insisti na pesquisa e localizei no b. Jardim do Cedro, alguns nomes de ruas, como a r. Elsira Schonhorst, r. Aline Teixeira da Silva, r. Amalia Schweiger e r. Guilhermina Bucker.

Canjiquinha na imaginação de Silvio Farias

No b. Conservas, anotei r. Maria José Rodrigues, conhecida como Canjiquinha, a mulher q teria alertado o governo de Lajeado, quando maragatos chegavam para invadir a cidade, durante a revolução federalista.

Há bem pouco tempo, a luzinha de alerta acendeu novamente, quando os vereadores aprovaram o nome de Ney Arruda para o parque da orla e, mais recente, o do prof. Ardi para quadras na r. Décio Martins Costa, no popular Valão ou Canal. Nem cogitaram o nome de uma mulher?

No b. Alto do Parque, um novo loteamento com suas ruas nomeadas com personalidades masculinas. Eu estava caminhando com uma amiga q veio morar aqui, e fiquei com vergonha quando ela me chamou atenção - e debochou da cidade. É aquilo: a gente pode falar mal do filho, mas só a gente.  Infelizmente, era verdade. Nem vou dizer o que ela realmente falou...


Praça Clara Maria Schorr

E as praças?  Quando fiz a ultima relação, em 2021, eram 26 com nome de homens. Disseram que no b. Jardim do Cedro havia a Praça Líria Arenhart. Procurei e não localizei...

No b. Olaria, o parque da nascente do Arroio Engenho chama-se Clara Maria Schorr,  e uma área verde recebeu o nome de Renita Schneider Kunz.

Para NÃO homenagear as mulheres, ainda temos:

A Praça da Amizade no B. Hidráulica. A Praça Lot. dos Médicos no B. Universitário.  E as Praças Lyons e Viva Vida e o Parque Piray, no b. São Cristóvão.

Hoje, se não estou errada, são 67 áreas de praça e parques.... E só 3 homenageiam  as mulheres. TRÊS.  


Pensei q esse assunto caía de maduro na tribuna da Câmara. Mas eu precisava ter uma ong ou um grupo atrás de mim, talvez o Arte na Praça q comemora 10 anos, em 2024. Mas achei melhor não misturar, já q não mais faço parte da organização.

Então, ó Casa do Povo! Revejam seus conceitos na hora de nominar ruas, praças e parques. É muito desproporcional as honrarias de vocês. É ungir a invisibilidade feminina.

Sim, Lajeado tem a rua 8 de Março, quando é comemorado o Dia Internacional da Mulher. Fica no Bairro Moinhos d' Água, uma lembrança do ex-prefeito Darci Corbellini quando vereador. Como era de se esperar: um beco junto ao trevo pra quem vai a Santa Clara. 

O bem da verdade, vocês q andam pelos bairros, devem conhecer muito melhor q eu a maioria das lideranças sociais e culturais de Lajeado. Mas não posso deixar de fazer algumas sugestões aos senhores e, principalmente, as vereadoras.

São mulheres que se dedicaram a cidade, muitas de forma voluntária, outras pelo seu pioneirismo, e q jogaram luz à cidade por sua projeção de âmbito estadual.

Já vi que Lenira Klein, 37 anos como presidente da Sociedade Lajeadense de Atendimento à Criança e ao Adolescente, fundada em 1958, hoje honra o prédio da Slan do Centro, com seu nome. Assim como Nora Oderich, no Centro de Atendimento a meninas, no b. Conservas.

Tenho anotado muitas outras:

Carmen Regina Cardoso
- a primeira vereadora e primeira prefeita de Lajeado. Falecida em 2023.

Dulce Jaeger dos Santos Chaves 

Dulce Jaeger dos Santos Chaves 

Essas fotos deslumbrantes podem inspirar muitas garotas de hoje.  Ela  tinha 26 anos quando fez o curso de piloto de aviões. Estava pronta para servir a pátria quando terminava a 2ª guerra mundial.



Em 2021, tardiamente, mas antes do q nunca, o seu pioneirismo foi reconhecido e, pelas mãos da neta Fernanda, recebeu a Medalha Mérito Santos Dumont. Uma homenagem post mortem, porque Dulce Jaeger dos Santos Chaves faleceu em 2005.
Pergunto: por que seu nome não foi nunca lembrado para uma praça ou avenida? Quantas pessoas vocês conhecem que receberam essa honraria da FAB?



Irmã Clementina Jaeger - Primeira professora da Congregação das Irmãs do Imaculado Coração de Maria  e a primeira Madre Superiora e diretora do Colégio Madre Bárbara.


Irmã Reinalda Moesch,
nascida em 1907. Voluntária na ação social desenvolvida na Chácara da Prefeitura, hoje bairro Santo Antonio,  junto com Geny Arruda, presidenta do Clube Beneficente de Senhoras Lajeadenses, ambas voluntárias para a montagem de 18 pequenas moradias na Chácara.  E ambas nunca foram lembradas para serem eternizadas?

Madre Clotilde Werle - a freira que construiu o Madre Barbara.

Margarida Noll - uma das primeiras parteiras da cidade, no ano de 1900.


Maria Bernadete Heemann – Miss Rio Grande do Sul, em 1970. Miss Internacional 1971. Faleceu em 2014.

Paula Gans - a primeira diretora do Colégio Evangélico Alberto Torres.

Regina Nötten  - a primeira dentista de Lajeado.

Rose Tavares – alfabetizadora no Grupo Escolar Fernandes Vieira, metade dessa cidade q hoje tem  60 anos, deve a ela a sua iniciação à leitura e à escrita.

Terezinha Schmidt Lermen – educadora, catequista de centenas de crianças. Faleceu em 2021.

Zuleika Born –  Idealizou, fundou e foi a 1ª diretora do Melinho. Faleceu em 2011.


O que essas mulheres têm em comum?

Nunca foram lembradas pelos vereadores.

Na sociedade patriarcal de Lajeado, é muito naturalizado.  

Senhores vereadores, mudem as lentes da cara. 

Li, que o mais belo jazigo é a memória. 



2 Comentários:

Às 22 de novembro de 2023 às 17:25 , Anonymous Anônimo disse...

Belo texto. Parabéns!! Não se pode esperar atitudes diferentes, quando se fala de uma das cidades mais "conservadoras " que conheço: Lajeado. Lamentável!! Precisa evoluir muito ainda. Mais mulheres no poder.

 
Às 24 de novembro de 2023 às 10:00 , Anonymous Anônimo disse...

Laura, tu tens uma sensibilidade enorme! O teu olhar sobre Lajeado é como uma lanterna numa noite escura. Parabéns!! Stella Maris
Ste

 

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