fevereiro 28, 2019

GERAÇÃO DE VEIAS ARTIFICIAIS


A primeira estética que lembro foi a dentadura. Os podres arrancados, lá vinha a chapa. Vi muitas no laboratório do vô Henrique, em Vera Cruz.
Recuperava-se não só o sorriso, mas a auto-estima.

Depois, os cílios postiços. Sabe quem inventou? 
Não foi a Max Factor, não. Mas, um diretor de cinema, em 1916.

Cabelos? Um peruqueiro juntou os fios, como já fazia para criar as perucas. Como se sabe, Luís IV se frustrava com sua careca. Alias, nem vamos falar nelas: coitado dos bodes e cavalos. 

Como Gilgamesh, há milênios, procuramos a fonte da juventude...


Só alcançamos a era plástica quando colamos as orelhas, diminuímos os narizes e esticamos a cara.

No início dos anos 60 surgiram as próteses de silicone para os seios. Surgiram quase junto com a boneca Barbie... Li que as prostitutas japonesas foram as primeiras a testarem o produto. No Brasil, o boom se deu no final dos anos 80: atrizes e donas de casas correram para as clínicas.

Agora... Ô med'us! As sobrancelhas são falsas, os olhos mudam de cor graças as lentes coloridas, as unhas postiças, os dentes recebem uma resina nanoparticulada que parece o açucareiro de porcelana da minha vó. Botox por tudo, tudo, tudo. Bochechas falsas, covinhas falsas. E os lábios rosados falsos? Lá embaixo, pequenos lábios falsos também. Agora me avisaram que já existe uma película de sardinhas para aplicar no rosto. Ju-ro.

Tudo artificial. Até a inteligência.
Sabe o mito de Narciso? Sempre tirando selfie dele mesmo? 

Pois o escritor irlandês, Oscar Wilde, tem outra versão para a história: quando Narciso morreu de tanto se olhar,  as deusas do bosque perceberam que a água doce do lago havia se transformado em lágrimas salgadas... Já vi muitas arrependidas.


Não falei das tatuagens e máscaras. 
São ilusões diferentes.


"Tinha uma colega que dizia que minha autoestima era grande, porque eu sempre confiei na minha cara do jeito que estava. Não tenho problema algum com minhas rugas.

Meu rosto reflete a minha vida, a minha alma, o que amei, o que sofri…"

Laura Cardoso, 91 anos, na ativa.

0 Comentários:

Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]

<< Página inicial