janeiro 23, 2014

VILA MARÍLIA: CRUZ ALTA

 1928. Casa de meus avós em Cruz Alta. 
Enquanto gravida, muros altos que mulher decente não exibe barriga. 
Depois do nascimento da filha, a casa ganhou o nome de Vila Marília.
Só então o muro  foi derrubado 
e um chafariz construído em frente ao jardim.
Na revolução de 1923, João foi credenciado pela Cruz Vermelha. 
Atendia os feridos em combate com (2) Porciúncula e
  (3) dr. Euclides da Cunha Lopes.

Na de 30 integrou o Batalhão Pedro Nolasco, criado por iniciativa do sogro, Sebastião de Oliveira.


Nos anos 50, uma reforma para construir um jardim de inverno, com persianas coloridas.
Nos fundos, uma quadra de vôlei. A garage.
Depois da cerca amarela coberta poi hibiscos vermelho, 
o quintal mágico da minha infância.
Parreira, jabuticabeira, abacateiros: guerra de fruta podre.
Taquareiras, trincheiras de ananas.
No Jatobá, um escorregador. Balanços e gangorra.
Casa de boneca de alvenaria. 
Ao lado, fogãozinho de pedra, com chaminé.
Para os meninos, uma tapera de taquara 
e milho assado no fogo de chão.

Em 1972 meus avós venderam a casa e se mudaram para o Rio.
Fugiam do frio e da nossa adolescência rebelde.

A primeira providência dos novos proprietários: destruir o jardim, 
cortar o caramanchão de rosas e acimentar as hortênsias.
Depois a casa foi revendida para um político 
de pensamento mais raso ainda.
Agora uma construtora vai botar tudo abaixo.
Resta saber se vão derrubar também o Jatobá centenário...
Desconstruiu-se uma época. Cruz Alta não existe mais.
O vento soprou sobre o tempo. 


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