agosto 10, 2009

ATO DE CONTRIÇÃO

Minha insônia é de enlouquecer. Na agonia dos travesseiros ouvi os sinos da igreja convocando os matutinos. Escorreguei daquelas cobertas esquizofrênicas e disfarçada de sonâmbula me vesti e fui para a missa.
Sim, até eu me surpreendi...

Mudou o padre, para espanto de todos madrugadores.
Veio de não sei onde, mas antes passou sete meses numa missão no Pará. Da bugrada para os burgueses... Ligeiro, deve mudar o discurso.
Na missa limito-me a sentar e levantar, sentar e levantar, sentar e levantar.
Desconfiam que a única oração que ainda sei é o pai –nosso. Rezo hipnoticamente.

Houve um tempo em que os bancos dessa igreja representavam o sexo e o estado civil dos fiéis:
- mulheres desacompanhadas e freiras na carreira de bancos bem à esquerda do altar.
- casadas com filhos, mas sem a presença do marido, na fileira central, à esquerda.
- casada acompanhada do marido centro, à direita.
- solteiros e desacompanhados, bem à direita.

Houve um tempo que eu sentava na ponta do banco para conferir os sapatos dos comungantes. Sapato rico, sapato pobre, sapato rico, sapato pobre... conga.

Houve um tempo que eu tinha medo de encostar os dentes na hóstia e me tornar uma pecadora mortal. A hóstia grudava no céu da boa e eu quase morria para desgrudá-la com a língua e disfarçar as aflições culposas.

Houve um tempo em que eu me confessava contando sempre os mesmos pecados: nome feio, briga com o irmão, ódio do pai, tesão pelo professor de educação física. Sim, desde pequenininha.

Agora eu sento onde quero, não olho para os lados, engulo a hóstia sem ajoelhar e penso que meus pecados não escandalizariam o mais reticente dos bispos.

0 Comentários:

Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]

<< Página inicial