maio 02, 2009

Fabula da sereia e os bêbados

Ulysses and the Sirens - Herbert James Draper


Todos estes senhores estavam lá dentro
quando ela entrou completamente nua
Eles tinham bebido e começaram a cuspir nela
Ela não entendia nada, acabava de sair do rio
Era uma sereia que se tinha extraviado
os insultos corriam sobre a sua carne lisa
A imundície cobriu os seus peitos de ouro
Ela não sabia chorar por isso não chorava
não sabia se vestir por isso não se vestia
Tatuaram-na com cigarros e com rolhas queimadas
e riam até cair no chão da taberna
Ela não falava porque não sabia falar
Seus olhos eram da cor de amor distante

(...)

E de repente saiu por essa porta
Mal entrou no rio ficou limpa
Reluziu como uma pedra branca na chuva
e sem olhar para trás nadou de novo
nadou até nunca mais, até morrer.

Pablo Neruda
1958

0 Comentários:

Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]

<< Página inicial